Por Ana Maria Tahan no Jornal do Brasil três semanas da ida às urnas, eleitores e eleitoras conversam daqui, debatem dali, e vão definindo o voto. As pesquisas registram, gradativamente, a queda do número de indefinidos. Mensaleiros e sanguessugas fizeram soar o alerta para o exercício da escolha consciente, mas não foram suficientes para quebrar maus hábitos. Como o de deixar para a última hora a seleção dos candidatos a deputado estadual e federal. Ao contrário do que a lógica ensina, alguns parlamentares beneficiados pela farta distribuição de recursos de Marcos Valério ou filantropos à custa da negociação e venda de ambulâncias vão reassumir os gabinetes na legislatura que se inicia em fevereiro do próximo ano. De qualquer forma, serão obrigados a ser pelo menos mais cuidadosos se insistirem em sobreviver de negociatas do gênero. Nesse cenário, vale a pena ressaltar as diferenças de posicionamento entre as igrejas, sem entrar no julgamento do mérito da escolha de cada uma. Cardeais, arcebispos, bispos e padres católicos se manifestam sem titubeios. Em sermões e homilias pregam a aposentadoria dos corruptos e a condenação dos políticos favoráveis à legalização do aborto. Não indicam nomes. Não citam partidos. Não dão nenhuma dica.
Assim fica difícil. Quem são os corruptos? Os meios de comunicação fazem sua parte, mostram as imagens, listam as acusações. Os tribunais regionais eleitorais também fizeram a sua. Impugnaram candidatos de roldão. O Tribunal Superior Eleitoral, pelo que tudo indica, vai derrubar todas as impugnações e permitir aos tais corruptos seguir em frente com as campanhas. E aí, em quem o católico não deve votar? Pergunta repetitiva. Vale também para aqueles que eventualmente defendam a legalização do aborto. Quem são? Não lembro de nenhum pretendente a cargo eletivo assumir tal defesa no horário eleitoral gratuito. E olha que eles falam coisas inacreditáveis para se destacar da massa de pedintes de votos. Do outro lado, as igrejas evangélicas - especialmente a Assembléia de Deus e a Universal do Reino de Deus, donas dos rebanhos com maior quantidade de fiéis - defendem candidatos às claras. Que o diga o presidente Lula, o grande beneficiário entre os concorrentes à Presidência, ou o senador Marcelo Crivella, o ungido dos universais para o governo do Rio. Os escolhidos não ardem na fogueira. Os púlpitos se abrem para os elogios e as exaltações dos pastores. A lei eleitoral é clara: proíbe apologias políticas em cultos religiosos. Daí a cautela dos católicos que se posicionam em tese, mas não ultrapassam a fronteira. Os evangélicos, contudo, têm mais a ganhar. Pelo menos o líder da Convenção Nacional das Assembléias de Deus, Manoel Ferreira. Candidato a deputado federal, negociou com Lula o comando do Ministério da Segurança Alimentar em troca dos votos de 4,5 milhões de seguidores, como revela reportagem de Josie Jeronimo, publicada hoje na página A4. Credos religiosos, ensina o mais sábio dos ditados populares, não se discutem. Nem é essa a intenção. Mas cabe discussão, sim, quando aqueles que se autonomeiam ou se dizem representantes de Deus na terra negociam em proveito próprio ou induzem ovelhas-eleitoras ou cordeiros-eleitores a uma escolha para ampliar ou vender-se por preço um pouco melhor. A legislação eleitoral está aí para ser aplicada. A quem abusa de um direito pretensamente divino e a quem surge disposto a pagar, com cargo público, a troca de votos. Abusos precisam ser contidos. E eliminados. Antes de os votos serem digitados nas urnas eletrônicas.
Editado por Giulio Sanmartini às 9/09/2006 04:50:00 AM |
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