“Adriana, li alguns artigos seus, com os quais concordo plenamente. Tomo a liberdade de enviar carta que remeti mês passado, aos meus amigos”. Guttemberg Guarabyra
Leia abaixo, a carta do Guarabyra:
Caros Tenho sido interrogado sobre meu voto para presidente na próxima eleição. Respondo que votarei em Alckmin, para desgosto de alguns, júbilo de outros e um certo desconsolo meu, que aguardava Serra como concorrente ao Planalto. Sendo assim, a bem da verdade, devo dizer que ainda não decidi definitivamente meu voto. De uma coisa, apenas, estou certo: jamais votaria em Lula. Confesso que cheguei a pensar nessa possibilidade, principalmente ao ver amigos que admiro defendendo o voto lulista. Meu parceiro, Sá, é um deles. Outro, Chico Buarque, antigo companheiro de bons combates. No auge da dúvida, pus-me a considerar atentamente os prós e os contras em depositar meu voto e minha confiança no atual presidente. Em primeiro lugar, examinei o que ele teria feito pelo Brasil nesses quatro anos, que justificasse a sua reeleição. E foi aí que começou meu desapontamento. Depois de repassar e de repesar, sem influência de propaganda, seus atos no comando do país, avaliando como contribuiu para transformá-lo em uma nação melhor, cheguei à conclusão de que fez muito pouco. E, pior, que poderia ter causado um enorme atraso se o tivéssemos seguido antes. Se não, vejamos. O Brasil tornou-se um país viável quando abortou um rumo de administração caótica, empreguista e hipócrita e partiu para sanar suas mazelas, atacando-as de frente e não as empurrando com a barriga, como vinha acontecendo. Entre as providências essenciais que foram tomadas, estão as privatizações — Lula foi contra. O saneamento dos bancos e do sistema financeiro — Lula foi contra. E o Plano Real — Lula foi igualmente contra. Portanto, quando assistimos Lula flanando na estabilidade econômica do Brasil e, simuladamente, jurando que foi ele quem a inventou, principia a transparecer a verdadeira face do atual presidente. É muita caradura. Na entrevista concedida na França, em vez de se mostrar ao menos preocupado com a atuação do partido que o apoiou e que — já se sabia naquele momento — havia financiado sua campanha com dinheiro proibido por lei, simplesmente justificou a bandidagem declarando que “o que o PT fez do ponto de vista eleitoral é o que é feito no Brasil sistematicamente”. Amigos, já afastei de meu convívio várias pessoas que demonstraram melhor caráter. Não poderia votar num tamanho cara-de-pau para presidir os destinos de minha terra. E mais, precisamos de um dirigente que adote a boa continuidade administrativa, sem se acomodar no que já foi realizado e que funcionava perfeitamente bem, antes mesmo de sua posse. Que não seja revolucionário apenas da boca pra fora. Que cuide também de inovar e contribuir para a resolução dos problemas que precisam ser tratados com rigor e prioridade. Como o da segurança, por exemplo, apenas para citar um dos mais urgentes. Até consigo entender a maioria absoluta de intenção de votos que Lula vem conseguindo nas pesquisas. Afinal, desde a época do coronelismo, a população brasileira menos esclarecida, mais pobre, cuja própria sobrevivência depende de benefícios concedidos pelo poder, tem sido atraída — e traída — por favorecimentos. O que me assombra é a intenção de voto por parte de pessoas que não dependem de benesses governamentais, que são dotadas de saber, de cultura e conseqüente de senso crítico. Fico imaginando o que elas pensam, quando o Ministério Público arrola os principais companheiros históricos de jornada de Lula, José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares, Sílvio Pereira, Luiz Gushiken, João Paulo Cunha, numa mesma denúncia, com Marcos Valério, Valdemar Costa Neto, Bispo Rodrigues e outros. “Os denunciados (escreve o Procurador-Geral da República) operacionalizaram desvio de recursos públicos, concessões de benefícios indevidos a particulares em troca de dinheiro e compra de apoio político, condutas que caracterizam os crimes de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, corrupção e evasão de divisas”. O que, na opinião do presidente, não se trata de crime, mas de “sistema”. Ainda, conforme o presidente, os quadrilheiros são e continuarão sendo um ente “querido”, como o José Dirceu, e “irmão”, como o Palocci — também denunciado por falcatruas, tanto no caso da misteriosa casa em Brasília, quanto nas inúmeras irregularidades da chamada “República de Ribeirão de Preto”. Ainda este mês, o processo promovido por José Dirceu contra os irmãos do prefeito Celso Daniel, do PT, assassinado — que declararam que o secretário particular do presidente Lula, Gilberto Carvalho, cinco dias após o crime, visitou-os em sua casa, para dizer que recursos extorquidos de empresas em Santo André eram repassados ao PT, por intermédio de José Dirceu —, foi arquivado a pedido do “indignado” ex-chefe da Casa Civil de Lula. Sem alarde e por solicitação dele. Como vêem, a vida continua, dentro do Planalto, como se nada houvesse acontecido. Antigamente, valia, inclusive para o PT e para Lula, a máxima “Diga-me com quem andas e te direis quem és”. Assim, quem se metia com picaretas, picareta era. Se a doutrina moral continuasse valendo nos dias de hoje, o presidente, ao apoiar elementos que o próprio Ministério Público tem na conta de bandido, bandido seria. (Não posso acreditar que seja este o homem que desejamos que nos represente diante das demais nações e povos do mundo) Termino esta singela carta, esclarecendo aos curiosos amigos que, sendo o voto secreto, não sou mesmo obrigado a revelá-lo. E que ainda vou pensar se mantenho minha preferência por Geraldo Alckmin. Em Lula, tenho certeza e repito, não voto. Abraços a todos. Guttemberg Guarabyra Cantor/compositor
Editado por Adriana às 9/18/2006 02:05:00 PM |
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