Por Lu Aiko Otta e Leonardo Goy em O Estado de São Paulo Medidas anunciadas pelo governo Evo Morales surpreendem e obrigam governo brasileiro a buscar explicações A 17 dias da eleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi novamente surpreendido por uma decisão do presidente da Bolívia, Evo Morales, desta vez confiscando as instalações e o fluxo de caixa das refinarias da Petrobrás boliviana. Ele já havia pego o governo brasileiro desprevenido em maio, quando nacionalizou as reservas de gás de seu país e colocou tropas do exército na porta das refinarias. Agora, ao tomar as refinarias, Evo rompeu uma espécie de acordo pré-eleitoral que havia feito com Lula. Ontem o governo correu para evitar que o mais recente ataque boliviano se reflita nas urnas. À noite, depois de gestões feitas durante todo o dia por assessores com o vice-presidente da Bolívia, Álvaro Garcia Linera (Evo Morales estava em Cuba), Lula ganhou uma trégua e pôde anunciar que a medida está 'congelada'. Ou seja, ela deixará de ser aplicada de imediato e será discutida, depois das eleições, no âmbito das negociações que os dois países mantêm em torno do fornecimento de gás natural ao Brasil. O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, propôs ao seu colega boliviano, Andrés Solíz Rada, uma reunião no dia 9 para retomar as conversas. Lula estava 'contrariado' com a atitude de Morales, segundo descreveram interlocutores. Estava ainda mais irritado com as cobranças por uma reação mais enérgica. 'Que querem que eu faça? Que invada a Bolívia?', desabafou. O Brasil foi brando em suas reações contra a Bolívia em maio, quando Evo Morales tentava eleger um congresso constituinte que o apoiasse. A recíproca não foi verdadeira.
Publicamente, Lula deu sinais de sua irritação ao chegar à residência do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, para um jantar com empresários. 'Não podemos aceitar decisões unilaterais', disse. 'A paciência é importante nas negociações internacionais, mas tem limites. Se nós estamos conversando com a Bolívia, se tinha uma delegação importante liderada pelo meu ministro de Minas e Energia e pelo presidente da Petrobrás, você ser pego de surpresa por uma notícia dada por um ministro, que não envolve o presidente e o vice-presidente, você fica pensando: o que está acontecendo na Bolívia?' - afirmou, referindo-se a Solíz Rada, que anunciou o confisco das refinarias. O presidente atribuiu a decisão boliviana a problemas políticos internos do país. Mas, apesar de mostrar desconforto com a atitude de Evo Morales, Lula insistiu na atitude conciliatória em relação ao vizinho. Segundo ele, é necessário que o governo faça um esforço para garantir a tranqüilidade não só na Bolívia como também em outros países vizinhos. 'São países que o Brasil tem de ajudar na economia para que possam se desenvolver.' Lula disse ainda que pretende fortalecer a relação Brasil-Bolívia. 'O Brasil tem de ajudar. Temos projetos importantes para dinamizar a economia da Bolívia junto com o Brasil. Temos um pólo gás químico para construir na divisa, temos rodovias ligando pontos importantes do território boliviano.' Informou também que ainda não conversou com Evo Morales. Mas disse que vai fazer todo o esforço para que Evo tenha sucesso no governo. O presidente disse também estar tranqüilo em relação ao abastecimento de gás ao Brasil. Mas durante o dia, numa tentativa de neutralizar a exploração do episódio pela oposição, os ministros reagiram com declarações duras. Rondeau cancelou sua ida a La Paz, onde tinha reuniões hoje, e chegou a anunciar que a reação seria 'à altura da ação'. No mesmo tom, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse que o episódio era 'grave'. COLABORARAM: JOÃO DOMINGOS, VERA ROSA, BEATRIZ ABREU, FABIO GRANER E CIDA FONTES
Editado por Giulio Sanmartini às 9/15/2006 01:56:00 PM |
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