Editorial em O Estado de São Paulo A retórica do presidente Lula sobre o nirvana a que ele teria feito ascender a economia brasileira convence inegavelmente os eleitores cujo nível educacional é igual ou inferior ao dele. Não convence, porém, os agentes econômicos, os investidores e parceiros comerciais, e muito menos analistas, nacionais e estrangeiros, que têm olhos de ver os sinais cada vez mais densos de uma realidade inquietante. Eles indicam, com base em fatos e números irrefutáveis, quão postiço é o cenário de bonança que o presidente descreve, deslumbrado, ao profetizar o mesmo, melhorado, para os próximos quatro anos. Além disso, pior ainda, apontam para um quadro que nem sequer é de persistência dos medíocres padrões atuais de crescimento - que desmoralizaram o 'espetáculo' prometido por Lula -, mas de provável deterioração do pouco que se conseguiu. Por onde quer que se comece, fatos de natureza diversa, mas todos desalentadores, se empilham no noticiário. Note-se, de imediato, o contraste gritante entre as fantasias triunfais do presidente sobre os progressos alcançados na recém-concluída reunião de cúpula do Fórum Ibas (Índia, Brasil e África do Sul) e a esqualidez dos seus resultados efetivos - que exibem mais um êxito de cartolina do terceiro-mundismo da diplomacia lulista. Nem com toda a boa vontade do mundo os 64 tópicos que sintetizam os acordos a que se chegaram depois de seis horas de discussões respaldam a euforia presidencial com a suposta relevância adquirida pelo Sul nos 'principais debates e decisões internacionais'.
À parte as suas expressões corporais e os bonitos adjetivos de praxe, o presidente sul-africano Thabo Mbeki e, sobretudo, o primeiro-ministro indiano Manmohan Singh não estão nem aí, como se diz, para o arranjo Sul-Sul que Lula prega como pueril tentativa de contraposição a uma situação objetiva, a presente ordem global, que o Brasil não tem cacife para abalar - e nem interesse em - e da qual os seus alegados parceiros preferem tirar proveito, em vez de remar contra o vento. Escoimado o palavrório, ficou-se num modesto projeto de redução de tarifas. Como está e como tende a ficar, se Lula for reeleito, o Brasil é um osso duro demais para o mais brasilianófilo CEO de multinacional que se possa imaginar. O caso da Volkswagen é de livro de texto. O presidente da empresa no País, Hans-Christian Maergner, acaba de anunciar não só a perda de interesse da Volks brasileira em continuar sendo a maior exportadora do setor, mas ainda uma guinada desacorçoante: em vez de montar aqui o modelo Fox para o mercado europeu, a VW pretende fazê-lo na Rússia. Claro, se dirá: o câmbio é desfavorável. Falso. Os custos de produção no Brasil é que são antieconômicos, em comparação com os do Leste Europeu e da China. Como é mesmo que se diz 'custo Brasil' em alemão? Também a General Motors, pela mesma razão, está suspendendo vendas externas da ordem de 30%. Em outro plano, desestimula os investidores o despreparo do trabalhador brasileiro típico para operar nas condições determinadas pela permanente revolução tecnológica que se torna, em ritmo galopante, o pilar de toda atividade econômica. Um relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), comentado nesta página, escancara a distorção básica do sistema educacional do País que limita dramaticamente a sua competitividade também no campo da mão-de-obra. Apesar disso, por motivações político-eleitorais, o governo Lula privilegiou o gasto com o topo da pirâmide - o ensino superior - em detrimento do estímulo ao choque de qualidade que a educação básica e fundamental precisa desesperadamente. O Brasil investe o equivalente a 18% do PIB per capita em cada aluno da 1ª à 8ª séries. E 127% em cada universitário! Dá R$ 1,9 mil por ano, no primeiro caso, e R$ 13 mil, no segundo. Tudo considerado, não surpreende que o Banco Mundial, o FMI e também o mais difundido jornal econômico do mundo, o Financial Times (FT), advirtam para um futuro sombrio para o Brasil. Sobra dinheiro para investimentos no mundo, constata o FT, mas os que o detêm estão arredios em relação ao Brasil: eles simplesmente duvidam que um Lula reeleito fará as reformas imprescindíveis para restringir o gasto público e por isso vão buscar portos mais atraentes para os seus capitais. O que se teme lá fora é que, se reeleito Lula, o seu próximo governo descambe para uma política populista.
Editado por Giulio Sanmartini às 9/15/2006 08:22:00 AM |
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