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AS APARÊNCIAS NÃO ENGANAM LULA NUNCA PENSOU EM IR AO DEBATE, FEZ SÓ UM JOGO DE CENA E AGORA SIMULA 'ACERTO'
Por Dora Kramer em O Estado de São Paulo
A situação moral do presidente da República é tão ruim que, sob a ótica exclusiva do interesse eleitoral dele, pode realmente ter feito um bem a si não indo ao debate da TV Globo. Por isso mesmo, em momento algum ele pensou seriamente em ir ao debate.
Simulou indecisão, manipulou a informação - como de resto manipula imagens, imaginários e simbolismos em geral - e, como a assessoria espalhou que a decisão de não ir foi de caráter pessoal, posa como autor do 'acerto'.
Uma maquiagem como tantas outras, agora visando a fortalecer o mito do intuitivo, cuja intuição o põe sempre no caminho certo. Desta vez não tinha escolha. Não foi, não porque escolheu não ir, mas porque não tinha outra saída.
Entre o risco da grande perda e o cálculo do menor dano, ficou com a segunda hipótese.
Desrespeito ao eleitor à parte - este aspecto de sua relação com a sociedade Luiz Inácio da Silva já resolveu quando reclamava do 'povinho' em suas derrotas do passado, e reafirmou recentemente, ao informar que só iria a debates 'quando interessasse' -, nada do que dissesse poderia contar pontos a seu favor.
Este é o seu ponto fraco no momento: acossado pelas evidências, vai perdendo a capacidade de convencer e a possibilidade de freqüentar qualquer ambiente onde seja questionado.
Era óbvio que o assunto corrupção dominaria o debate. Por isso, a alegação da proteção da figura institucional do presidente de uma avalanche de grosserias soou a todos, e o mediador William Bonner deixou bem claro isso, como mero pretexto para se ausentar e ainda tentar reduzir o prejuízo fazendo-se de vítima.
O constrangimento de ouvir em rede nacional perguntas como a de Cristovam Buarque sobre a possibilidade de renúncia caso fique comprovada a intenção de uso eleitoral do dossiê Vedoin em favor de sua candidatura seria muito maior que a repercussão negativa da ausência.
Isso sem contar a ira santa da senadora Heloísa Helena e a frieza penetrante do anestesista Geraldo Alckmin.
Afeito a ignorar a realidade, o presidente Lula apenas se manteve fiel ao seu estilo ao preferir buscar reforço afetivo, aval político e reverência eleitoral no comício em São Bernardo do Campo, no lugar de se confrontar com algumas verdades que julga dissolver por obra e graça de populismo e, eventualmente, votos.
Antes que se diga que votos são tudo numa democracia, convêm lembrar que é por intermédio deles que o governante chega ao poder, mas, uma vez lá, deve obediência a outros preceitos democráticos, tais como respeito à lei e às instituições, apreço às liberdades e aceitação do contraditório.
Há vários exemplos de mandatários eleitos cuja manipulação dos instrumentos de poder solapa os preceitos da obediência à alteridade e da convivência natural com a pluralidade, sendo Hugo Chávez o mais bem-sucedido (por enquanto) e próximo de nós.


Editado por Giulio Sanmartini   às   9/30/2006 09:25:00 AM      |