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VIVA O GRANDE LÍDER
Por Sandro Guidalli em Mídia sem Mascara
Não se sabe ao certo como anda a saúde do "presidente" Fidel Castro. Sou daqueles que preferem não especular e acho pouco provável que a morte dele venha a ser escondida pelo regime por ele criado há tantas décadas. Acho que a cúpula comunista irá divulgar logo a morte de seu líder, quando isso ocorrer. Ademais, também acho que isso ainda não é pra já.
Mas por estes dias de incerteza, é interessante notar o desconforto dos jornalistas brasileiros, a grande maioria apreensiva com a possível morte deste que é um dos maiores tiranos da história contemporânea.
Apreensiva por duplo motivo: o primeiro, de ordem pessoal, pois essa gente tem Fidel como ídolo. O segundo por não saber ao certo se Cuba permanecerá território antiamericano e comunista.[*]
Quanto ao primeiro motivo de preocupação, infelizmente nada posso dizer para atenuar o sofrimento que eventual perda causa nos corações da comunidade de mídia país afora. Já quanto ao aspecto da continuidade política do regime cubano, minhas previsões são auspiciosas para os jornalistas brasileiros que gostam tanto de chamar o ditador de presidente.
Para mim, Cuba permanecerá sob poder comunista ainda por muito tempo. É verdade que o centro deste poder no continente está se transferindo para Caracas mas isso não quer dizer que a Ilha deixará de receber dinheiro para permanecer num sistema fechado de governo. O financiador de Cuba passou a ser Hugo Chávez e dependerá agora dele a permanência dos comunistas em Havana. Não acredito na força dos exilados em território americano nem em uma eventual ação da Casa Branca para remover o entulho socialista do país vizinho. Os Estados Unidos continuam preocupados com o Oriente Médio e se alguma ajuda acontecer, ela se dará de forma muito discreta ou meramente em caráter humanitário.
Mas a minha opinião vale muito pouco e não servirá de alívio. Os jornalistas precisam ter certeza pelo menos de uma coisa: a opinião pública brasileira continuará alheia aos verdadeiros acontecimentos na Ilha de Fidel. Ele irá morrer sem que os leitores da imprensa brasileira saibam exatamente o que ele fez, quem prendeu, quem matou, quem torturou. Permanecerá sem conhecer em detalhes o sistema carcerário cubano, a identidade de centenas de intelectuais e jornalistas impedidos de trabalhar e confinados em celas indescritíveis. Continuará sem saber pormenorizadamente como funciona o sistema de delação de eventuais opositores e que usa crianças como principal meio de operação. Enfim, os jornalistas brasileiros, sempre tão benevolentes com a ditadura de Castro, seguirão omitindo fatos e mais fatos que , uma vez revelados em sua totalidade, mostrariam como é brutal o homem pelo qual grande parte da intelectualidade brasileira tem como guia político e ideológico.
Para ter certeza de que nada disso vira à tona, pelo menos no Brasil, nossos jornalistas já se esforçam para que a palavra "ditadura" não seja empregada em textos sobre Fidel Castro. Ao "presidente", costumeiramente utiizado para designá-lo, teremos agora as palavras "governo Fidel", 'Era Fidel", ou "sob a presidência" de Fidel. E assim uma geração inteira de leitores irá acreditar que os comunistas implantaram uma república democrática no lugar da ditadura de Batista. Haverá para sempre uma oposição entre Fidel e Somoza, entre Fidel e Stálin , entre Fidel e Hitler ou entre Fidel e Kim Il Sung quando sabemos que estes personagens da História são convergentes e não divergentes em caráter e em ações.
Nem a morte irá separar Castro dos jornalistas brasileiros da grande mídia. Estes continuaram a gritar: Viva o Grande Líder por ainda muitos e muitos anos.


Editado por Giulio Sanmartini   às   8/07/2006 01:21:00 AM      |