Por Fabio Grecchi na Tribuna da Imprensa Abro espaço para o jornalista Nilson Ferreira de Mello, ex-editor de Economia desta TRIBUNA e hoje diretor da Meta Consultoria e Comunicação. "A idéia do presidente Lula de convocar uma Assembléia Constituinte para promover a reforma política, encampando proposta apresentada por juristas ligados à OAB, ampara-se no pressuposto implícito de que a atual legislatura federal não é merecedora da confiança da sociedade. E, de fato, não é. O problema é não haver garantias de que os constituintes a serem eleitos estarão moralmente à altura do mandato. Aliás, tudo nos leva a crer o contrário, ou seja, reproduzirão o baixo padrão ético do atual Congresso, submerso em escândalos sem precedentes. "As circunstâncias que fizeram o País produzir uma classe política de tão reprovável conduta não poderão ser alteradas sem que a própria sociedade brasileira - da qual esta classe é um fruto podre - passe por um processo de depuração. Trabalho para muitos anos.
Sejamos realistas: o baixo nível de nosso Parlamento e de nossos governantes não é obra do acaso, nem acidente de percurso. Se em nosso cotidiano optamos por ser uma sociedade de "espertalhões" - e ainda nos orgulhamos disso -, que ilusão poderíamos ter com relação aos deputados e senadores que elegemos? O presidente gostou da idéia que lhe apresentaram porque se sente à vontade no papel de sonso, como se seu governo, seu partido e seus auxiliares não tivessem estreita ligação com o mar de lama em que mergulhou o País. Percebeu na proposta uma nova e imperdível oportunidade para posar de moralista, descolando-se dos fatos que deixaram marca indelével em seu governo. Pois bem. Os interlocutores que lhe sopraram no ouvido esqueceram apenas de lembrar que a convocação de uma Assembléia Constituinte, sem ruptura institucional que a precedesse e justificasse, afronta a ordem jurídica, gerando insegurança institucional - além de ser inócua pela razão já mencionada. O presidente poderia assumir uma postura mais responsável e ponderada em suas declarações. Mas o populismo messiânico, sempre em alta na América Latina, dá asas à imaginação e à retórica. Os exemplos próximos incentivam os arroubos. Kirchner, na vizinha Argentina, conseguiu semana passada extrair da Câmara dos Deputados poderes para mudar a Lei Orçamentária sem prévia consulta ou consentimento do Legislativo. Chávez, na Venezuela, também já remendou a Constituição de acordo com suas conveniências. Só falta agora quererem fundar uma dinastia governante, para tutelar o povo, a exemplo do que fez Fidel Castro. Que, moribundo, passa o bastão de ditador ao irmão Raúl".
Editado por Giulio Sanmartini às 8/07/2006 01:15:00 AM |
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