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"ESSA GENTE NÃO TOMARÁ POSSE"
por Dora Kramer em O Estado de São Paulo
Autor da provocação à Justiça e ao Ministério Público para que as instituições se preparem para impugnar os mandatos dos parlamentares eleitos em outubro e sobre os quais existam provas de abuso de poder econômico, corrupção ou fraude, o deputado Miro Teixeira é daqueles que apostam na vitória do bem no final.
"Essas pessoas não vão tomar posse", diz ele, dono de convicção baseada nas conversas mantidas com procuradores, juízes eleitorais e até em manifestações extra-oficiais que vêm recebendo de todo o País de corregedores de tribunais eleitorais, desembargadores e integrantes das procuradorias, ávidos por quebrar o conformismo com a desmoralização da política, ansiosos por tomar uma atitude. "Esse pessoal está revoltado e com os dentes muito afiados."
Indignação provocada por situações absurdas, como pedidos de registro de candidaturas de gente processada por homicídio e tráfico de drogas. Pessoas protegidas pela Lei das Inelegibilidades, cuja permissividade até o julgamento final da ação impede uma ação preventiva no sentido de barrar o acesso de infratores ao Congresso e à imunidade parlamentar.
Se o Ministério Público provocar e a Justiça Eleitoral aceitar a impugnação com base no artigo 14, parágrafo 10º, segundo o qual se houver provas de corrupção o infrator não pode tomar posse, os personagens dos atuais escândalos ficarão de fora do próximo Congresso. Isso, claro, não é garantia de lisura, mas ao menos sinaliza que não há rendição nem conformismo com a situação atual.
"Se a polícia prendeu, o Ministério Público denunciou, a Justiça processou e a imprensa revelou, não há razão para ficarmos naquela situação contemplativa de que nada pode ser feito. Podemos e devemos reagir", diz o deputado.
Foi Miro Teixeira também quem causou um rebuliço no ambiente político ao apresentar uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral sobre a necessidade de as alianças regionais acompanharem as coligações partidárias nacionais (a chamada verticalização), com a intenção de fazer prevalecer o caráter nacional dos partidos.
Depois de muita discussão e vaivéns, o Congresso conseguiu derrubar a regra que, embora tenha validade para esta eleição, não vale a partir da próxima.
Miro é partidário da tese de que a reforma política só depende da aplicação das leis em vigor e principalmente do cumprimento da Constituição. Para ele, a adoção dos princípios da moralidade e da impessoalidade que presidem a função pública seria suficiente para eliminar boa parte das mazelas do sistema político e principalmente barrar o acesso de criminosos ao Parlamento.
"Se para prestar um concurso público exige-se do candidato ficha limpa, o normal é que se exija, no mínimo, o mesmo de um postulante a mandato público." Mas, ao contrário, este acaba protegido por legislações "favoráveis a quem rouba", no dizer de Miro.
Na opinião dele, " a crise enseja avanços" porque incentiva ímpetos de indignação e reação. "O que ofende não prevalece", diz e exemplifica: "Collor pediu que o povo saísse de verde-amarelo para defendê-lo, mas não foi preciso nenhuma combinação prévia, a não ser o consenso baseado no bom senso para que o povo saísse de preto para condená-lo."


Editado por Giulio Sanmartini   às   8/06/2006 02:21:00 AM      |