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UM INDIGNADO DE PLANTÃO SIMON: SE FOR REELEITO, OU LUL MUDA DE PADRÃO, OU COMEÇA NOVO MANDATO 'NO CHÃO'
Por Dora Kramer em O Estado de São Paulo
Há muito decepcionado com o presidente Luiz Inácio da Silva, a quem apoiou com entusiasmo e veemência, desconsolado com os rumos do seu PMDB - "Hoje nas mãos de gente processada pelo Supremo Tribunal Federal" -, o senador Pedro Simon, uma espécie de indignado de plantão, ficou particularmente chocado com a posição do grupo de artistas que menospreza a ética como valor a ser adotado na política.
"Algumas de nossas lideranças artísticas já foram mais afinadas com a sensibilidade nacional, nos tempos mais duros da ditadura. Era o tempo em que um grande poeta, com elegância e premonição, avisou ao general de plantão: 'Apesar de você, amanhã há de ser outro dia.' Na memorável campanha das Diretas-Já , que arrastou para as ruas multidões nunca vistas na história brasileira, o refrão que embalava a nossa luta era: Todo artista está onde o povo está."
Apesar do desencanto, Simon guarda esperança na possibilidade de que haja reação, não só de artistas, mas também de políticos, em favor da preservação da conduta ética, a despeito "do caos que nos cerca".
Ele gostaria, na verdade, que a iniciativa partisse do presidente Lula, caso seja mesmo reeleito.
O senador não vê sinais de disposição à mudança num segundo período, mas alerta para a necessidade de mudança de padrão de comportamento e convivência no governo em prol da própria preservação do mandato.
"Se o Lula não mudar, se não adotar a seriedade como atributo primordial, vai começar o segundo governo como está terminando o primeiro, no chão."
Mas e a popularidade dele, não está no alto?
Na opinião do senador Simon, mesmo ganhando a eleição, essa situação favorável não vai perdurar por muito tempo.
"Ele será inevitavelmente cobrado a dar respostas que ainda não foram dadas. Ainda mais se continuar na companhia dessa gente, Renan Calheiros, José Sarney, Jader Barbalho, Romero Jucá", cita, coincidentemente todos de seu partido, o PMDB.
Pedro Simon aponta para dificuldades já na montagem da equipe de governo e na base de apoio no Congresso. "Como fará, se já não tem autoridade para montar, como fez há quatro anos, um ministério cheio de derrotados e apaniguados nem pode recorrer aos mesmos métodos para cooptar apoios nos partidos?"
A resposta, na opinião dele, estaria na opção preferencial pela elevação do nível de qualidade. "Ou faz isso ou vai enfrentar uma crise atrás da outra."
Simon não vê a proposta de entendimento nacional como uma solução possível. "A menos que Lula aceitasse mudar o padrão. Se não fizer, só quem aceitará a mão estendida serão os vigaristas de sempre."
O senador não crê na hipótese de vitória de Geraldo Alckmin e credita a carência de entusiasmo do público com a principal candidatura de oposição à "falta de credibilidade" do PSDB e do PFL.
Mas o segredo da dianteira de Lula, na opinião de Pedro Simon, está baseado em três tipos de posturas, para ele "cínicas", muito em voga: "Há o cidadão para o qual vale tudo no jogo pelo poder; há outro que julga que não se pode fazer política sem sujar as mãos; e, por fim, há quem diga que todos os meios são válidos, se o fim é nobre."
Exatamente como os artistas que, no entender de Simon protagonizaram "um espetáculo de constrangimento nacional".
O senador reconhece que boa parte da responsabilidade se deve ao comportamento da classe política. "Esta nunca esteve tão mal aos olhos da população" por causa de escândalos de roubo e corrupção.
"Isso, no entanto, não justifica a adoção de posturas cínicas ou autoritárias no campo da política."


Editado por Giulio Sanmartini   às   8/27/2006 02:06:00 AM      |