Por Fátima Pacheco Jordão, socióloga em O Estado de São Paulo A voz dos eleitores, expressa pela pesquisa do Estado/Ibope desta semana, não responde categoricamente, como aliados de Alckmin o fazem - o governador Lembo por palavras e Lúcio Alcântara por atitudes -, que esta eleição não terá segundo turno. Ainda assim, Lula está mais consolidado agora, depois de dez dias de propaganda eleitoral, do que antes desta fase. Sobretudo porque as respostas para perguntas estimuladas mostram que sua posição relativa a outros candidatos, por exemplo, a sua "votação" em relação a todos os outros candidatos ("votos válidos") oscilou positivamente de 57% para 60%. E esse movimento se deu em todos os segmentos publicados pela pesquisa. Ou seja, deste ângulo, a eleição, se fosse hoje, de fato estaria decidida em um único turno. Através do horário eleitoral, os eleitores perceberam a fragilidade da candidatura da senadora Heloísa Helena e recuaram.Também não se sensibilizaram - até o momento - com o discurso de Geraldo Alckmin e sua posição na pesquisa não evoluiu.
O patamar de aprovação de Lula não se alterou significativamente entre esta e a última pesquisa divulgada pelo Ibope (feita de 15 a 17 de agosto). Atualmente 11% dos eleitores avaliam o governo como "ótimo" e 33% como "bom". Justamente aqueles 55% dos eleitores que são críticos de alguma maneira ao seu governo (consideram o governo Lula apenas regular ou ruim/péssimo) não concedem primeiro turno. Entre eles estão eleitores de classe média, os que têm renda familiar acima de cinco salários mínimos, eleitores do sul do País e eleitores de alta escolaridade. De outro lado, 32% dos eleitores ainda não respondem espontaneamente em quem vão votar. Esta taxa chega a 39% entre os de baixa escolaridade e 37% entre eleitoras. Deixam a decisão para depois, avaliando com mais acuidade o quadro todo. São brechas que podem ser ampliadas através da propaganda eleitoral na mídia. Claro, se a campanha oposicionista acertar a sintonia, dentro e fora da TV. Assim como está fazendo a campanha situacionista. Aliás, os indicadores de audiência da Grande São Paulo, medidos pelo Telereport do Ibope (não audiência declarada de TV, mas domicílios sintonizados na primeira semana no horário eleitoral), mostram que a audiência média domiciliar, por dia de programa foi alta, tanto no horário do almoço quanto no noturno: 31% e 58%, respectivamente; alcançando, ao cabo da primeira semana (sem contar os comerciais nos intervalos da programação), 95% das residências com televisores. O mesmo ocorreu, provavelmente, em outros grandes centros e pelo Brasil afora. Assim como na eleição passada, quando o tucano José Serra não aderia totalmente à situação e tentou - até com algum sucesso - encampar mudanças, nesta eleição ambos os candidatos propõem a continuidade de políticas públicas e de governo. Posicionamento estratégico que faz todo o sentido para Lula, mas de difícil assimilação no caso de Alckmin. É verdade que este posicionamento mudou a partir desta sexta-feira. O candidato tucano está apontando mais as vulnerabilidades de Lula e criando mais contrastes em relação ao seu principal adversário. Mas a atual pesquisa do Ibope ainda não captou esta mudança. Resta ver se o eleitor vai perceber que pode ter um candidato que representa não apenas uma variante de continuidade, mas uma possível mudança em aspectos que considera centrais para o País. Aliados de um e outro não estão ajudando, resta mesmo a performance de cada um na TV.
Editado por Giulio Sanmartini às 8/27/2006 02:03:00 AM |
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