Na Tribuna da Imprensa
BRASÍLIA - O depoimento do empresário Ronildo Pereira Medeiros, apontado como um dos integrantes da máfia das ambulâncias, complica ainda mais a situação do ex-chefe de Gabinete do Ministério da Saúde Antônio Alves. A revelação foi feita ontem pelo deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), um dos membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Sanguessugas.
O grau de envolvimento de setores do governo, segundo avaliação da CPI, levou a comissão criar uma sub-relatoria, que terá a missão exclusiva de investigar a administração federal. Além do ministério, outros três estão na mira da comissão parlamentar: Educação, da Ciência e Tecnologia e das Comunicações.
O relator da comissão de inquérito, senador Amir Lando (PMDB-RO), indicou para os cargos de sub-relatores os deputados Gastão Vieira (PMDB-MA) e Júlio Redecker (PSDB-RS) e o senador Flávio Arns (PT-PR).
"O depoimento (de Medeiros) aprofunda ainda mais, compromete ainda mais Antônio Alves", assinalou Gabeira, que defendeu a convocação dos ex-ministros da Saúde Saraiva Felipe, deputado do PMDB de Minas Gerais, e Humberto Costa, secretário nacional de Comunicação do PT e candidato da Coligação Melhor pra Pernambuco (PT-PRB-PTB-PAN-PMN-PC do B) a governador de Pernambuco. Felipe e Costa negam ligação com o esquema.
O deputado do PV do Rio está indignado com o sigilo de todo o processo decretado pela Justiça, com o aval do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). "Estou estudando uma ação judicial para derrubar o segredo do inquérito. É um absurdo a lacração dos depoimentos", afirmou, referindo-se aos relatos de Medeiros e do empresário Darci Vedoin, um dos donos da Planam, principal empresa do esquema. Eles depuseram à Justiça Federal do Mato Grosso, na semana passada. O depoimento do empresário que teria acusado Alves tem 116 páginas.
Na avaliação de Gabeira, não há necessidade da convocação do ex-ministro da Saúde e ex-prefeito de São Paulo José Serra (PSDB), candidato da Coligação Compromisso pra São Paulo (PSDB-PFL-PTB-PPS) a governador.
Existe uma única referência a Serra em todo o processo - o empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin, filho de Darci Vedoin, afirmou no testemunho que preferia a vitória dele para presidente nas eleições de 2002.
No entanto, a deputada Vanessa Grazziotin (PC do B-AM) é favorável à convocação de Serra sob o argumento de que o esquema dos sanguessugas é antigo e foi montado em 1999, no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "O Serra até agora não foi citado, mas pouco me importa se é ligado a A, B ou C", disse o vice-presidente da comissão, deputado Raul Jungmann (PPS-PE). "Se é sanguessuga, pau nele, convoque-se e puna-se, independente de nome ou de governo."
Para o deputado do PV, também não há "nenhuma prova" que aponte para o envolvimento do ex-deputado José Dirceu (PT-SP) com a máfia das ambulâncias. "É uma 'forçação' de barra fazer qualquer ilação em relação ao José Dirceu e o esquema dos sanguessugas", disse. "A Casa Civil, qualquer que seja o governo, só libera as emendas para os parlamentares aliados."
Além da sub-relatoria para investigar o Poder Executivo, a comissão poderá criar hoje uma outra frente de investigação, relativa ao envolvimento das prefeituras. "São quase 500 prefeituras envolvidas no esquema", afirmou Jungmann.
Editado por Giulio Sanmartini às 8/01/2006 01:59:00 AM |
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