Por Carlos Chagas na Tribuna da Imprensa BRASÍLIA - O programa de governo do presidente Lula, divulgado terça-feira em São Paulo, envolve uma série de promessas e enunciados genéricos. Algumas utopias, também. Retomar o desenvolvimento, baixar os juros, manter a inflação sob controle, distribuir renda, ampliar a ação social do governo, realizar a reforma política, investir em educação, partir para obras de infra-estrutura, algumas destas até referidas. Não há que contestar as metas apontadas, apesar de aqui e ali se registrarem surpresas. Por que, por exemplo, o presidente abandonou um dos projetos antes apresentados como carro-chefe de seu primeiro governo, o desvio das águas do rio São Francisco? Por que, também, na reforma política, nem uma palavra sobre a extinção da reeleição, apesar de haver falado em fidelidade partidária e financiamento público das campanhas eleitorais?
PT sinaliza com mundos e fundos O programa não mostra como viabilizar as promessas, ou seja, omite números e recursos. O presidente está certo ao evitar vexames iguais aos dados em 2002, quando falou na criação de 10 milhões de empregos, ou que faria o Brasil crescer a 7% ao ano ou que proporcionaria a cada brasileiro três refeições por dia. Números não vão bem com campanhas eleitorais, ele aprendeu. Mas faltaram os mecanismos para viabilização das promessas. A certeza da vitória no primeiro turno terá embotado o sentimento de cautela da equipe encarregada de elaborar o programa, ficando a lição, quem sabe, para uma próxima campanha, desde que não seja a do terceiro mandato. Uma vez mais o PT sinaliza com mundos e fundos, sem indicar os caminhos para chegar lá. Uma referência singela surgiu em torno dos meios de comunicação, apenas com a lembrança de que eles deverão ser democratizados. Nada existiria contra a tese, não fosse a publicação, um dia antes, de um esboço contendo medidas polêmicas, preparadas pelo PT. Ainda que não endossadas pelo presidente na divulgação de terça-feira, elas assustam. Essa história de criação de um miniministério para a democratização da comunicação social dá arrepios. Convém, no entanto, aguardar os tais "cadernos" que o Planalto promete divulgar em setembro, detalhando cada item do programa.
Editado por Giulio Sanmartini às 8/31/2006 04:32:00 AM |
|