Por Fabio Grecchi na Tribuna da Imprensa Em pronunciamento ontem, na tribuna do Senado, o senador Jefferson Perez (PDT-AM) comunicou estar encerrando sua carreira política. Revoltado com o resultado das pesquisas que dão vitória a Lula ainda no primeiro turno, encontrou o culpado para a reeleição que mais claramente se aproxima: o povo. Segundo o vice da chapa do também senador Cristóvam Buarque, se o Congresso é hoje uma casa de pândegos e o Brasil tem Lula como presidente - e provavelmente o terá por mais quatro anos -, o voto do cidadão é o verdadeiro culpado. Foi injusto o senador quando disse isto: "Um país que tem um Congresso desse, que tem uma classe política dessa, que tem um povo. Senador Antonio Carlos Magalhães (Sim!, ele perguntava logo a ACM, que o escutava no plenário): dizem que político não deve falar mal do povo. Eu falo, eu falo. Parte da população que compactua com isso, é lamentável. E que sabe, não é por desinformação, não. E que não é só o povão, não. É parte da elite, inclusive intelectuais".
Conhecido pelo azedume, Jefferson incorreu num grave erro: não reconhecer que este talvez seja o final de um processo que alguns de seus colegas de Senado contribuíram grandemente. Alguns deles que agora chamam Lula de ladrão não têm envergadura moral para tanto: cansaram-se de fazer candidatos gente corrupta, com o único objetivo de ampliar os limites do curral eleitoral. E aumentar seu poder de barganha com o Congresso e com os governos. Quantos dos colegas de Jefferson não compraram - literalmente - o mandato? Cevando eleitores à base de cestas básicas e ameaças, não é de hoje que o senador sabe que o Congresso cai de podre. Ele mesmo deveria sentir urticária com alguns de seus companheiros, gente que andou pendurada no saco da ditadura militar, que foi eternamente governo, que faz governadores e prefeitos apenas figuras tiradas de seu círculo de amestrados. Que o senador padeça da decepção com Lula, é compreensível. Mas afirmar que o Brasil está na lama por causa de seu próprio povo é ignorar a realidade, é falsear o cotidiano. Jefferson sabe que as práticas políticas passam longe da decência e não foi o PT que inventou isto. Se deixou contaminar, mas criar, não criou. O problema do moralismo é que ele cega. Faz com que se acredite mais virtuoso que os demais, quando, no fundo, talvez seja - isto sim - acomodado. Trata-se somente de visão estreita dos fatos, que, como tal, traz distorções e injustiças.
Editado por Giulio Sanmartini às 8/31/2006 04:30:00 AM |
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