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NADA MUDOU, NADA MUDARÁ !
Por Onofre Ribeiro
Repercutiu profundamente o artigo “Eleição de desesperados” publicado ontem aqui neste espaço.A propósito dessa repercussão, permito-me estender hoje uma nova reflexão, combinada com outras conversas e percepções anteriores. Nos programas eleitorais em todos os níveis, com todos os candidatos, tenho assistido a promessas como multiplicar os benefícios sociais, consertar estradas, reformar pontes, construir estrutura portuária, construir hospitais, aumentar acessos a isso e aquilo.
Todas essas promessas vêm do desejo dos candidatos de “trabalharem para o bem da nação e dos cidadãos”. Mas quando eles falam nas obras pretendidas, estão falando de uma coisa só: do uso do Estado para realizar aquilo que eles acham que a sociedade quer.
Em nenhum momento, nenhum dos candidatos disse que está preocupado com a sociedade na sua essência. Explico melhor: quando prometem construir, construir e construir, estão falando de usar o poder do Estado e os recursos arrecadados da população. Parece justo, não parece? Mas não é. Aplicar recursos públicos em obras que nem sempre vêm do desejo social, já que a maioria é escolhida pelos setores de planejamentos públicos, é uma decisão de cima para baixo.
Mas quando se aplica o recurso público da maneira como se aplica no Brasil, está se falando de fortalecimento do poder político, porque envolve os seguintes atores públicos ligados ao Estado: o sistema de planejamento, o orçamento público, os ministérios e estatais da área em que estão as obras. A partir daí desencadeiam um sem número de interessados como empresas de planejamento, de consultoria e empreiteiras que realizam os serviços.
Só que nenhuma empreiteira ou consultoria e nem mesmos os setores do governo fazem isso sem casá-los com os interesses políticos dos vereadores, dos prefeitos, dos governadores, dos deputados estaduais, federais e dos senadores. Aí a coisa complica, porque o faturamento político que eles precisam para manter o seu estoque de votos, acaba envolvendo também o inevitável e viciado faturamento financeiro. A obra fica muito mais cara, ou nem sai porque um desses atores não quer favorecer esta ou aquela situação. Modifica ou sabota a obra para manter seus votos ou para boicotar adversários.
Mas o pior mesmo, é que essa onda de fazer e de construir só exercita o lado do Estado. Não vi qualquer candidato voltar-se para o fortalecimento da sociedade na forma da construção da cidadania. Na realidade, isso não interessa mesmo. Sociedade organizada e politizada é complicada. E política não gosta de complicação desse tipo.
Por isso, num país onde o governo federal manda em quase 70% de toda a arrecadação de impostos e sobra para o município menos de 10%, vejo a completa falência da próxima gestão. Para sobreviver ela se corromperá nesse círculo vicioso de aumentar sempre o poder do Estado e de sufocar o poder da sociedade. É isso que está sendo prometido nesta campanha!
Estamos andando para trás e pagando impostos como se estivéssemos andando para a frente. O poder não é do Estado. É da sociedade! Alguém teria que dizer isso aos candidatos nesta eleição. Pelo visto, ninguém dirá!


Editado por Giulio Sanmartini   às   8/31/2006 04:09:00 AM      |