Por Giulio Sanmartini Felizmente posso ter o privilégio de não precisar de telefone celular. Por obrigação de trabalho, ainda morando no Brasil, em 1995, o usei por alguns meses, quando ter um destes era um luxo. Trabalhava numa firma, fazia muitas coisas externas e precisava quase sempre de informações do escritório central, portanto usava durante o trabalho aquele pertencente à firma e de noite quando ia embora o deixava lá. Tenho por hábito começar a trabalhar de manhã cedo pois é quando meu dia rende, a tarde me serve somente para arrematar alguma coisa que não foi feita e resolver problemas se vierem. Eu chegava ao escritório às 8 horas da manhã, meu chefe lá pelas 11 e tinha o desagradável hábito de querer reuniões depois de 6 da noite, quando eu já estava a de saco cheio querendo ir tomar meus chopes no Clipper do Leblon. Ele percebeu esse meu desagrado e passou a evitar ao máximo essas reuniões, mas um dia ele me chamou dizendo que precisava de um trabalho para aquela noite, fiz-lhe ver que o faria na manhã seguinte assim quando ele chegasse já estaria pronto, mas ele insistiu dizendo que poderia fazê-lo naquela noite em casa e que ele me telefonaria. Disse-lhe que não ficava em casa e não tinha telefone, portanto seria impossível. Entramos numa queda de braço e ele sugeriu que eu levasse o celular. Disse-lhe que tudo bem, o trabalho estaria pronto naquela noite e ele poderia me chamar no celular, mas no dia seguinte enquanto eu o estivesse esperando levaria minha namorada para o escritório e faria uma presepada com ela sobre sua escrivaninha. Assim o trabalho ficou mesmo para o dia seguinte e sua mesa continuou sendo usada somente para o trabalho.
Aqui na Itália o telefone fixo é instalado no mesmo dia do pedido e a tarifa é muito barata, mas existe uma verdadeira mania de celular, que aqui se chama “telefonino” (telefonezinho). Suas chamadas são abusivamente prioritárias. Na livraria onde sou cliente compro um mínimo de dois livros por mês, o que é uma boa média, o dono sempre me distinguiu, mas outro dia ele não estava e fui atendido por uma balconista, antes que começasse a dizer o que queria tocou o celular e ela sem me dar a mínima o atendeu, falou com toda a calma e a prolixidade e eu esperando com paciência, retomei a conversa e o tal tocou de novo, a mesma coisa, na terceira vez, disse-lhe para desligar e me atender pois eu estava na frente de quem a chamasse pelo “telefonino”. – “Mas eu estou trabalhando” – foi sua má educada resposta. Lhe disse que ao atender-me também estaria trabalhando, haja vista que ambos estávamos vestidos e por isso mesmo, não estávamos fazendo naquele momento algo no mínimo mais agradável que comprar ou vender livros. Fui-me embora e logo depois de chegar em casa chamou-me o dono do negócio para desculpar-se. Então ficou bem claro que não tenho e se a vida me permitir, jamais teria uma dessas máquinas infernais e absorventes. Fico pasmado de como é impulsivo o uso do celular, mais ainda com a velocidade, digna de um acrobata de circo, em digitar o teclado do aparelhinho ainda mais com a falangeta do dedão que é a mais grossa. Tenho certeza que bem usado, trata-se de uma invenção importante, mudando nossas vidas, seja no ponto de vista comodidade, pelo fato de poder comunicar-se a cada momento e em cada circunstância e sendo uma forma de vencer a solidão. Tudo isso é verdade, mas não precisa acreditar que com o celular tudo que se quer seja permitido. Também estes pequenos utensílios devem ser submetidos a regras. Vamos lembrá-las aos que tem as péssimas tendências no seu uso. A primeira regra deve ser taxativa e diz respeito às circunstâncias do uso. Constata-se perturbados, que mesmo as pessoas de boa educação permitem-se interromper um conversa de visu com alguém de carne e ossos, para responder a uma chamada telefônica: freqüentemente fazendo cara e bocas de impaciência, revirando os olhos para o céu e bufando enquanto tira o celular do bolso ou da bolsa, mostrando angustia pela interrupção da conversa. Isso não deveria ser permitido. Se o interlocutor em carne e ossos com o qual nos encontramos é um parente ou um amigo que encontramos com muita freqüência, podemos fechar um olho, mas só em alguns casos e por um brevíssimo tempo. Se estamos em uma conversa de negócios ou com um amigo que encontramos de quando em quando, a interrupção para falar no celular e terminantemente proibida. Mas proibida ainda é se estamos em visita. Deverá ser regra desligar o “telefonino” quando se entra em uma casa. Só se a mulher está no hospital e esta para dar a luz, o marido poderá tê-lo ligado, mas explicando previamente o porque. Segunda regra: não é conveniente falar no celular enquanto se caminha na rua, faz-se necessário parar e apartar-se. É simplesmente ridículo gesticular e falar alto, aparentemente sozinho, quando se está no meio das pessoas. O falar e gesticular no meio do povo, especialmente por pessoas de uma certa idade é tão ridículo como se estivéssemos participando de uma chanchada de terceira categoria. Vamos manter o sentido do ridículo evitando esses fatos, basta somente seguir essas poucas regras.
Editado por Giulio Sanmartini às 8/30/2006 07:09:00 PM |
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