Por Fabio Grecchi na Tribuna da Imprensa A entrevista da repórter Ana Paula Padrão mostrou Lula desconfortável. Um homem imprensado pela desconfiança generalizada da opinião pública e que, por causa disso, se protege atrás do manto da liturgia do cargo. O presidente não deu certeza se vai participar dos debates televisivos, durante a campanha, com seus adversários. Sabe que serão todos contra ele e não quer expor a instituição Presidência da República quando estiver sendo atacado. Foi a justificativa que deu. Lula, inclusive, confessou a fraqueza de um dia ter criticado Fernando Henrique Cardoso quando deixou de enfrentá-lo diante das câmeras de TV. Algo que reforça ainda mais a idéia de que o discurso de campanha jamais condiz com a realidade do poder. Pode parecer que todos já sabem disto, mas torna-se mais dramático na medida em que é obrigado a reconhecer no momento em que busca a reeleição.
Seus feitos se diluem diante da quantidade de promessas não cumpridas. Dizer que a população mais pobre hoje come mais é uma justificativa pífia para quem se elegeu com os votos da classe média e para ela prometeu empregos. Explicar que um crescimento anual em torno de 4% não é pífio, se comparado com as décadas de 80 e 90, que todos sabem terem sido perdidas pelo Brasil, é remeter a um passado que não interessa ao eleitor. Principalmente se for levado em consideração que o País, nestes quatro últimos anos, não enfrentou qualquer turbulência internacional que o tivesse impedido de trabalhar. A mesma sorte não deram seus antecessores. Todos querem saber o que Lula realizou desde que assumiu a presidência, cercado de esperanças até por quem não tinha votado nele. E neste cotejo, resvala no fracasso. Potencializado sobretudo pelo amadorismo que envolveu personagens que com ele chegaram ao poder e não tiveram pruridos em aparelhar a máquina pública para um projeto enlouquecido. No vale-tudo para solidificar o plano, deixaram rabos de fora que foram pisados. Na entrevista, Lula se esquivou até mesmo de comentar sobre os petistas flagrados com a boca na botija - do mensalão ou da República ribeiro-pretense -, que pretendem continuar com seus cargos na Câmara. Caiu no jargão de que não se pode condenar sem julgamento. Perfeito, mas e o desgaste que impuseram a seu governo, que pode empurrá-lo para um segundo turno no qual seu adversário representa tudo aquilo que o brasileiro negou, em 2002, na figura de José Serra? Ficou evidente que Lula está incomodado, que teme não conseguir fazer suas realizações suplantarem as culpas que põem sobre suas costas. Sente, agora, que se aproxima a eleição, o peso da insatisfação da opinião pública, que começa a se manifestar nas pesquisas. E evitar o confronto direto com seus adversários só tende a tornar-lhe a situação ainda mais desfavorável.
Editado por Giulio Sanmartini às 8/04/2006 02:09:00 AM |
|