por Olavo de Carvalho, filósofo no Diário do Comércio Distribuídas principalmente pela Reuters e pela Associated Press , dúzias de fotos adulteradas, forjadas em laboratório para dar ao público uma noção falsa da guerra no Líbano, têm sido publicadas como jornalismo confiável nas capas dos jornais e revistas de maior prestígio nos EUA, como New York Times e U. S. News & World Report , sem contar a infinidade de canais de TV que as exibem ao mundo como provas da maldade israelense. Tomar partido contra Israel e contra seu próprio país, é coisa que os jornalistas americanos fazem desde a década de 60. A novidade é o emprego deliberado e constante de procedimentos de falsificação que eliminam qualquer hipótese de um mero automatismo preconceituoso. A grande mídia dos EUA tornou-se, deliberada e conscientemente, uma arma de guerra a serviço do inimigo. Os jornais brasileiros endossam e reproduzem alegremente o material falsificado, sem se desmentir ou pedir desculpas, acumpliciando-se portanto a um crime de difamação em massa idêntico, na técnica e nas intenções, às grandes campanhas de guerra psicológica empreendidas pela KGB e pelo Ministério da Propaganda nazista nas décadas de 30 e 40.
Mas a identidade de procedimentos não deve nos induzir à impressão errônea de mera repetição de um precedente histórico. A propaganda nazista e comunista jamais conquistou tanto espaço na grande mídia ocidental, nem foi aceita tão facilmente como expressão da verdade, nem muito menos se tornou, fora das ditaduras sob domínio, a autoridade moral imune a contestações. Conforme expliquei em artigos anteriores, a mídia adquire, no novo contexto estratégico, uma importância incomparavelmente maior que a do desempenho militar em combate, reduzido a estopim de grandes operações de manipulação psicológica. Estas são desencadeadas dentro do território do país visado e usando maciçamente os préstimos de seus próprios formadores de opinião. Implicações imediatas e incontornáveis do fenômeno: 1) A classe jornalística como um todo, prevalecendo-se do prestígio e da liberdade inerentes às suas antigas funções, é a linha de frente das tropas assimétricas. Jornalistas, radialistas, profissionais do show business - mas também professores de todos os graus de ensino - compõem uma gigantesca Quinta-Coluna, alguns como colaboradores deliberados, outros intoxicados pela ilusão dos altos objetivos morais a que acreditam servir, muitos - a maioria - boiando entre esses dois extremos, na névoa difusa da falsa consciência que acaba por corrompê-los integralmente. 2) As noções usuais de “infiltração”, “viés”, “patrulhamento” etc., com que os críticos conservadores explicam as distorções ideológicas do noticiário tornam-se totalmente impotentes para descrever uma situação na qual a totalidade organizada da “grande mídia”, com uma uniformidade e uma disciplina quase militares, camufla ou omite fatos essenciais, impondo toda uma cosmovisão falseada, perseverando na mentira por décadas a fio e tornando quase impossível a restauração da verdade após transcorrida uma geração. É o quadro inteiro da realidade histórica que assim se torna secreto e inacessível, fazendo dos debates públicos uma fútil agitação de espumas à superfície de um oceano de inconsciência.
Editado por Giulio Sanmartini às 8/25/2006 02:01:00 AM |
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