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ESQUELETOS DE CARAVELAS
Por Fabio Grecchi na Tribuna da Imprensa
A hipótese de haver segundo turno da eleição presidencial não se afigura positiva para Lula. Ainda que chegue com imensa vantagem sobre Geraldo Alckmin, terá dois adversários que prometem tirar preciosos pontos para dá-los ao tucano: os senadores Heloísa Helena (AL) e Cristovam Buarque (DF), hoje respectivamente candidatos presidenciais pelo PSoL e pelo PDT. Ambos são críticos ferozes do atual governo, mais até do que o ex-governador de São Paulo.
O estrago que podem fazer à reeleição de Lula ainda é difícil de ser mensurado, mas fontes do Palácio do Planalto trabalham com a possibilidade de ele ser grande. Afinal, se a senadora saiu expulsa do PT com a pecha de herege, pois não se afinava com o novo catecismo do partido, o ex-ministro da Educação também sentiu-se desprestigiado pelo presidente. Foi seguidamente tolhido à frente da Pasta, resultado do poder sem rédeas que Antonio Palocci tinha à frente da Fazenda, sem contar que também estranhou o novo Lula que chegara ao poder.
Helena e Cristovam têm munição de sobra contra a reeleição. Não quer dizer que automaticamente se alinharão com Alckmin, mas que o tucano vai atrás de ambos, isto não resta a menor dúvida. O fato de contar com o respaldo do PFL não é fator impeditivo para tentar atrair o PSoL e o PDT para a campanha: afinal, já tem ao seu lado o PPS do deputado Roberto Freire (PE), que deixou para trás o manto do PCB. O ex-comunista, aliás, seria a figura ideal neste contato com os relutantes da esquerda, sobretudo ao garantir-lhes que um futuro governo Alckmin será marcado pelo ecumenismo político - coisa que o de Lula também foi, porém sem ter coragem de assumir isto.
O primeiro indicativo veio quinta-feira, quando o ex-embaixador Itamar Franco reapareceu apoiando o tucano. Não tem nenhum motivo para fechar com Lula, pois foi traído a céu aberto pelo presidente, que respaldou a candidatura de Newton Cardoso ao Senado por Minas. Abandonado, tranqüilamente atendeu ao apelo do governador Aécio Neves, que se reelege fácil no primeiro turno. Os caciques pefelistas tamparam o nariz (sobretudo Antonio Carlos Magalhães), mas, como é por uma causa mais nobre, admitiram o esforço.
Quem também desembarca ao lado de Alckmin no segundo turno é o ex-governador Anthony Garotinho. Ele já havia se assanhado para o tucano quando tentava evitar o naufrágio de sua candidatura pelo PMDB. Se ofereceu até para ser seu vice. Como Lula é inimigo figadal, a aproximação independe do resultado da eleição no Estado do Rio. Nesta manobra, uma parte do partido tem tudo para acompanhá-lo, já que a idéia dos peemedebistas em não fechar formalmente a aliança com o Planalto era exatamente para pôr os pés nas duas canoas num eventual segundo turno. O apoio a Heloísa, anunciado ontem, é uma forma de fazê-la subir nas pesquisas, tirar mais pontos do presidente e concretizar o segundo turno.
Lula queimou caravelas e hoje se vê na iminência de ter várias figuras de peso contra ele numa corrida apenas contra Alckmin. Pior: as que têm ao seu lado não são de confiança.


Editado por Giulio Sanmartini   às   7/29/2006 05:18:00 AM      |