por Onofre Ribeiro Exatamente nesta data, em 1990, comecei a escrever artigos diários para jornal. Comecei em A Gazeta, onde escrevi por 14 anos,e agora somam-se dois no Diário de Cuiabá. Faço questão de registrar a data, não só por ela em si mesma, mas porque considero muito importante registrar a distância que nos separa hoje daquela data tão distante. Mato Grosso mudou profundamente. Em todos os aspectos. Principalmente nos aspectos humanos. Ainda não estava perfeitamente consolidada a interação entre as pessoas que chegaram ao estado nas décadas de 70 e 80 na esteira da atração para as áreas novas de colonização do norte, do noroeste e do leste do estado. As identidades ainda estavam confinadas nas regiões e nos municípios para onde as pessoas foram e chegaram naqueles 20 antes a partir de 1970. Ao longo do tempo deu-se a integração entre todos e já não se tem identidades isoladas. Todos são mato-grossenses, mesmo que o sotaque e os costumes ainda permaneçam. Das suas origens, todos guardam saudades e lembranças. Mas viver mesmo, todos vivem é em Mato Grosso. Curiosamente, Cuiabá, que sempre foi o símbolo de uma cultura mato-grossense histórica, acabou recebendo grandes fluxos dos descendentes de todos os migrantes. Vieram em busca de trabalho e de educação nas universidades. Casaram-se por aqui e acabaram construindo uma cultura nova. Para si e para os que viviam em Cuiabá. Tanto, que falar em cuiabanos hoje, é falar em pessoas que vivem em Cuiabá.Já não é mais significativo como naquela época, ostentar o fato de ser nativo da terra. A juventude com até 18 anos vai além de 78% nascida em Cuiabá, filhos de gentes as mais diversas. Não seria exagero afirmar que “Cuiabá globalizou-se” em relação ao Brasil. Isto dito, a gente fica imaginando como mudaram todos os comportamentos de todos. Antes, era privilégio dos cuiabanos natos fazer a sesta à tarde. Hoje é geral. Era costume a vida noturna alegre e movimentada. Continua,na proporção do crescimento da população. As comidas típicas, como o arroz com carne, o consagrado “Maria Isabel”, hoje é o prático típico da culinária, ao lado do peixe. Ninguém mostra a carteira de identidade antes de pedir o peixe e, mito menos, escandaliza-se ao pedir a terceira e a quinta cervejas. Da mesma forma, gritar com alguém lá na outra mesa do bar, e dar um largo abraço em público. São coisas que pegaram a partir da base cuiabana. Por outro lado, algumas coisas novas se incorporaram. Hoje respeita-se horários com retidão. Compromisso marcado é compromisso marcado. Antes, havia uma folga no tempo, uma espécie de túnel que se justificava numa expressão que dispensava justificativas: “não deu de ir”. O tempo passou, passou pra melhor, meus filhos cresceram por aqui. Minha vida consolidou-se por aqui e, como quase todo mundo “gente de fora” como eu, nos integramos e nos unimos sempre, quando alguém fala mal daqui. Somos daqui, uai!
Editado por Giulio Sanmartini às 7/29/2006 05:05:00 AM |
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