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PESQUISAS E INTERPRETAÇÕES
Por Ana Maria Tahan no Jornal do Brasil
Tanto o Datafolha quanto o Ibope detectaram, em levantamentos divulgados nos últimos 15 dias, uma queda na preferência do eleitorado pela reeleição do presidente Lula. Mais o crescimento do concorrente do PSDB, Geraldo Alckmin, e a curva ascendente - mais expressiva num e menos no outro - da senadora Heloísa Helena, candidata do PSOL. Até aí tudo bem, não fossem alguns detalhes na divulgação dos resultados do Ibope anunciados no Jornal Nacional, no Jornal da Globo, e no Bom Dia. Em todos, os locutores alegaram que não fariam comparação com os resultados dos levantamentos anteriores porque a campanha não havia começado oficialmente. Repetiam argumentos do diretor-presidente do instituto, Carlos Augusto Montenegro. Para quem entende do assunto, a justificativa não se sustenta. No mínimo, se valesse, o Ibope estaria desautorizando os resultados do Datafolha, divulgados pela mesma TV Globo, que abonavam a comparação.
Chamou também atenção nos dados do Ibope, a margem de erro. Tradicionalmente, situa-se em dois pontos percentuais, para mais ou para menos, a diferença possível no resultado. No caso, era de três pontos. Quem mexe com estatísticas eleitorais explica que a margem maior se justifica pelo universo menor de pesquisados. Seria uma espécie de barreira contra alterações maiores no humor dos eleitores. Mas, três pontos percentuais é um exagero. Transformados em números, representariam 3,7 milhões de votos.
Em entrevistas e conversas nos dias posteriores à divulgação dos resultados, Montenegro desenvolveu um raciocínio curioso. Divide as pesquisas em dois momentos. O primeiro começou com os dados relatados na TV terça-feira e se estende até o início do horário eleitoral gratuito, em agosto. O outro, vai de meados de agosto até 1º de outubro, data do registro da escolha de cada um na urna eletrônica.
Ora, se assim fosse, se a eleição deslanchou apenas com a divulgação dos resultados de terça-feira, por que desperdiçar dinheiro com pesquisadores e estatísticos? Por que sair às ruas para antecipar as nuances da reação de eleitores desde janeiro? Se não valia nada, não teria sido melhor começar agora?
Tem mais. O diretor presidente do Ibope avalia que, apesar da queda de cinco pontos, o voto em Lula é sólido. Fica ali entre 43% e 49%. Outra incoerência. Se a eleição começou na terça-feira, como afirmar que Lula tem voto sólido e está reeleito?
Montenegro pede aos telespectadores-eleitores que ignorem os resultados anteriores porque a campanha não começara. Mas nas trocas de impressões sobre os dados considera que o candidato tucano, Geraldo Alckmin, não cresceu tanto quanto deveria. Raciocina que, se a rejeição a Lula anda por volta dos 32%, o concorrente do PSDB deveria ter, agora, atingido estes níveis de preferência. Como está com 27% , apesar de crescer "apenas" oito pontos percentuais, precisaria ter feito muito mais para se mostrar viável.
E Heloísa Helena? O dono do Ibope a considera um misto de Enéas com Lula nos idos da campanha de 1989. Poderia até estar melhor se contivesse o discurso, não atacasse programas como o Bolsa Família. Acredita que a senadora vai ficar sambando entre os 8% e os 11%, nada mais, nas pesquisas. E no segundo turno, o eleitor dela vota mesmo em Lula.
Parodiando Augusto Nunes, Montenegro derrapou no wishfull thinking. A verdade é que Lula caiu (acima da margem de erro), Alckmin subiu (idem) e Heloísa está ocupando espaços na turma do voto nulo. A fuzilaria contra a corrupção pegou. E o segundo mandato de Lula está em risco.


Editado por Giulio Sanmartini   às   7/29/2006 05:15:00 AM      |