Por Adriana Vandoni
As festas de fim de ano acabaram, mas, como nestepaíz do carnaval o ano novo só começa de verdade depois do carnaval, ainda temos mais de 20 dias de bandeira a meio pau. O ano que passou não foi diferente dos outros. Um ano eleitoral que manteve as mesmas regras dos anos eleitorais anteriores, com políticos corruptos recebendo novos salvos-condutos eleitorais e judiciais, prontos para novas empreitadas rumo aos cofres públicos, é só passar o carnaval. Portanto, 2006 teria sido monótono se não fosse por um acontecimento: o apagão aéreo. Foi graças a ele que me lancei em um novo empreendimento: formar grupos de turistas para o novíssimo Resort Congonhas. Passei o natal lá. Eu, minha família e um monte de gente que nunca tinha visto na vida. Foi uma experiência quase cósmica, uma integração danada. Estávamos na mesma sintonia, com os mesmos pensamentos e desejos. Era total a comunhão de idéias e ideais, ou seja, exterminar os donos das empresas aéreas, o presidente da Infraero, o diretor da Anac, o comando inteiro da aeronáutica, o presidente do sindicato dos controladores, o Ministro da Defesa e Lula. Porque Lula? Bem, porque ele é que preside esta joça.
Na véspera de Natal nós brindamos com água morna, mas tudo bem, afinal, ainda tinha água. Morna, mas água. Os atendentes com os nervos a flor da pele e os passageiros espumando de raiva. O que nos diferenciava era a empresa pela qual estávamos encalhados. Eu encalhei pela TAM que por ironia do destino tem como lema uma frase do fundador Comandante Rolin: “O limite do nosso crescimento deve ser a qualidade dos nossos serviços”. Ô xente! E ainda me vem a atendente dizer que se quero reclamar, para entrar em contato através do canal de comunicação “Fale com o Presidente”. Nessa hora eu queria, por Deus do céu, bater naquela coitada. Oras, pra mim o Presidente sempre será o Comandante Rolin, morto em um acidente aéreo. Será que a garota queria fazer comigo o mesmo que queria fazer com ela? E é baseada na experiência adquirida que estou me programando para curtir o feriado de carnaval no aeroporto de São Paulo. Não ia fazer isso, mas como a Anac avisou que vai “monitorar as centrais de reservas de passagens das companhias, para minimizar a ocorrência de overbooking e reduzir os transtornos dos usuários”, resolvi agir. Um aviso desses é um empurrão e tanto pra alavancar meu empreendimento. Pelo volume de pessoas que passam por Congonhas, que provavelmente estarão encalhadas, mas com um fogo danado pra pular o carnaval, resolvi me antecipar. Estou formando grupo de foliões para integrar a “Escola de Samba O Seu Que Voa”, vamos desfilar na pista. Literalmente. De Cuiabá sairá um bloco carnavalesco “Vai-Vai do Cai-Cai”. As inscrições estão abertas e como a Anac vai fiscalizar (hahaha diz pra não haver overbooking), as vagas são ilimitadas, sempre caberá mais um. Os passageiros vão na ala “Vai-vai” e os responsáveis pelo Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (isso existe), vão na ala “cai-cai”. Será animado e assim festejando e sambando na pista, vamos ter o início real do ano e nem vamos prestar atenção no PAC. Nem nas negociações para convencer os governadores das maravilhas do PAC. Nem mesmo vamos nos dar conta que o “custo do convencimento” será muito maior que o “custo do investimento”. Alegria, estamos no Brasil! Bum-bum-PAC-timbum!
Editado por Adriana às 1/30/2007 05:50:00 PM |
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