PEDRO OLIVEIRA pedrojornalista@uol.com.br Temos assistido nos últimos dias o grito rouco e indignado das ruas contra a imoralidade praticada pelo Congresso Nacional que numa manobra sórdida, bandida e cruel, buscou aumentar o salário de deputados e senadores em quase cem por cento. A partir desse aumento cada senador deveria receber em torno de R$ 142.000,00 por mês, entre salário e verba indenizatória, auxilio moradia, telefone, correio e combustível, enquanto cada deputado federal receberá aproximadamente R$ 106.000,00 mensalmente com idênticas mordomias. São mais de 300 salários mínimos comparando com os minguados 350 reais ganhos pelo trabalhador honesto e que ainda se sente privilegiado, pois milhões têm que se contentar com a bolsa esmola paga pelo governo aos desempregados. Com um agravante o trabalhador tem uma jornada de trabalho mínima de 44 horas de trabalho por semana, enquanto deputados e senadores fingem que trabalham as terças, quartas e quintas feiras. A indignação foi tanta que o brasileiro deixou de lado a apatia política que o caracteriza e mostrou claramente que começa a ficar incomodado e essa inquietação não vai parar por ai. Fosse no Chile ou na Argentina com certeza a população revoltada já tinha quebrado o Congresso e também a cabeça de alguns parlamentares. Aqui é assim mesmo, mas ninguém se engane, pois o povo está no limite de sua tolerância. Fatos isolados foram registrados esta semana a exemplo do cientista político William Carvalho, que se acorrentou em uma pilastra do Senado Federal para protestar contra o reajuste de 91% aos parlamentares. Carvalho ficou acorrentado por cerca de 30 minutos até ser retirado por seguranças do Senado. É um servidor público, que está ameaçado de processo por cometer um ato que teve aprovação nacional. Em Salvador o jovem deputado federal Antonio Carlos Magalhães Neto levou uma facada nas costas da doméstica Rita de Cássia Sampaio Souza, quando saia de seu escritório. Em seu depoimento a polícia ela disse que as razões de seu ato seriam o reajuste absurdo dos parlamentares e um descontentamento geral com relação aos políticos brasileiros. Em Brasília um grupo de mulheres esposas de militares (por enquanto as esposas) fez um protesto na rampa do Congresso Nacional. Com narizes de palhaço as mulheres estenderam uma faixa preta para manifestar o repúdio ao aumento. A Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil, a influente CNBB, orientou os padres católicos a questionarem nas missas do domingo o que fazer diante do fato chocante do aumento de salário dos parlamentares. Diz a nota ainda que um salário exorbitante e imoral diante de apenas 350 de salário mínimo sinaliza mais interesses particulares do que a defesa da justiça ou gesto de partilha ou solidariedade. A nota é assinada por Dom Geraldo Majella, arcebispo de Salvador e presidente da CNBB. No domingo assisti o padre de minha igreja chamar os parlamentares de hipócritas, desonestos, bandidos e demoníacos. Os presentes a igreja davam visíveis sinais de indignação. Diante do volume da reação do povo alguns poucos deputados e senadores começaram a se manifestar contra o aumento. O PPS entrou no STF com uma ação de inconstitucionalidade e obteve liminar pela unanimidade da Suprema Corte. E na contramão aparece o fagueiro comunista de mesa de boteco, Aldo Rebelo, que busca a reeleição para presidente da Câmara torrando o dinheiro que não é dele, e afirma que as manifestações que se espalharam pelo país são legítimas, mas não se trata da defesa da manutenção do teto, mas precisa ser mantida a decisão dos líderes e das Mesas do Congresso Em outras palavras: não importa o que o povo pense, sofra e seja traído. O negócio é rosetar. Daqui pra frente tudo poderá acontecer. Inclusive nada. Mas fica para o Brasil uma mostra evidente de que os que fazem o Congresso Nacional, os mesmos que absolvem corruptos e corruptores, que livram mensalistas e sanguessugas de processos de cassação, não estão nada preocupados com o povo ou com os graves problemas da Nação. Antes e principalmente pensam a agem em defesa de seus interesses e de seus bolsos. Este não é o Congresso que merecemos. Jornalista e presidente do Instituto Cidadão
Editado por Adriana às 12/19/2006 09:23:00 PM |
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