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"VÔMU CUMÊ..."
Por Giulio Sanmartini

Era o final dos anos 1970 quando fui morar na cidade mineira de Juiz de Fora. Passara-se pouco mais de um mês e me vi levado a uma festa numa fazenda próxima. A caminho me foram sendo explicadas algumas particularidades do anfitrião e da própria festa em si.
O personagem chama-se José Agostinho, mas atendia pelo apelido de Zé Garrucha, sua família estava no local há mais de um século, o primeiro dos ancestrais fora para plantar café e fizera fortuna, passadas três gerações, quase mais nada sobrava, ele ainda tinha essa pequena fazenda onde aconteceria festa.
O maior desejo de Zé Garrucha era o de reviver a grandeza de sua família e no seu entendimento isso só seria possível se ele fosse admitido na sociedade local.
Como primeira medida, pagava ao colunista social mais lido na cidade, para citá-lo todos os dias, depois começou a promover festas pantagruélicas, bocas livres para ninguém botar defeito. Jovens engravatados e moçoilas com roupas de grife não as dispensavam. Pra demonstrar a fartura, um seu velho amigo de infância dizia que nas festas de Zé Garrucha, o whisky do bom batia na canela.
Mas aí fiquei sabendo o outro lado da coisa. Essa seria a última festa, pois para bancar todas as outras começara por endividar-se, depois a meter-se em falcatruas e estava com sua prisão decretada.
A casa da fazenda era antiga, em estilo colonial, mas mostrava grande decadência, estava cheia de gente, a “alta sociedade” local de smoking e longos, o resto com as roupas mais variadas, que iam do terno à camiseta de meia e calças jeans.
A bebida rolava, mas o salão do bufê estava fechado, num determinado momento Zé Garrucha pegou na maçaneta da porta, todos fizeram silêncio, ele olhando seus convivas com desdém e asco abrindo a enorme porte deu se brado de revolta:
- “Vômu cume putada”!
E todos lançaram-se aos comes sem o mínimo pudor.
Pois é, nesse grande banquete que está sendo o aumento de salário do parlamentares (boca libérrima só para eles), Aldo Rebelo, que o promoveu e o está defendendo, na fotografia mostra uma expressão de que, com alguns whiskys, começaria bradar ao seus pares:
- “Vômu cumê putada”!


Editado por Giulio Sanmartini   às   12/19/2006 02:44:00 PM      |