Roberto Romano
Com o discurso, no dia 13 de novembro de 2006 na Venezuela, o presidente da república brasileira deixou escapar uma realidade que toda a midia escondia, por má fé ou tibieza. Quem comanda a caça aos jornalistas e a intimidação da imprensa É O PRÓPRIO PRESIDENTE. Agora ficou mais difícil para os que se escudavam nas desculpas de que ELE nada sabia ou afirmavam que atos truculentos seriam feitos de "aloprados".
O trabalho de sapa contra a liberdade de imprensa é comandado a partir do Palácio do Planalto. Esta verdade, quase todos a sabiam, mas o fingimento interesseiro, o medo, a covardia, a conivência com o poder fez de muitos jornalistas os seus próprios coveiros.
É tempo de agir contra a guerra de exterminio, basta por exemplo recusar escrever o nome do governante nos jornais, não dizer nada sobre ele, noticiar eventos sem tocar no seu nome nem dos seus áulicos. A técnica já foi usada pelo jornal O Estado de São Paulo contra Adhemar de Barros. Mas não deu certo porque se tratava de um só jornal contra poderoso governador populista.
Se a imprensa que tem apreço por si mesma e vergonha na face quiser, em pouco tempo a caçada aos jornalistas será arrefecida. Caso contrário, o serviço de intimidação —o bastão— e o dinheiro para comprar juízos favoráves —a cenoura— conseguirão o que a ditadura militar não logrou obter. Que tal começar desde já referindo-se ao censor duplicado de exterminador da liberdade apenas assim, "Ele". Sem mais. E aos áulicos, como "eles" e "elas" ?
As sugestões podem ser muitas. O insuportável, porque ignominioso, é a curvatura obscena de espinhas, numa atitude conivente com a tirania do poder.
Nos últimos dias tenho sofrido uma vertigem chamada vergonha de ser brasileiro. Nunca tinha experimentado semelhante sintoma. Hoje mesmo, ao sair da universidade, tive a certeza de que boa parte dos professores está incluída no esquema governamental. Está marcada uma reunião, na minha ex-Faculdade de Filosofia da USP, com o ministro da Educação. Certamente a conversa será do mais elevado plano especulativo...
Cenoura, bastão... E o juízo ético de muitos caros colegas atingiu um nível bem mais baixo do que na época do regime militar, quando o mote era silenciar e ter medo, quando não aderir sem pudor aos dominantes.
Vergonha, asco, uma série apavorante de experiências toma conta de quem ainda ousa ficar de pé. Tudo muito melancólico, patético.
Editado por Anônimo às 11/14/2006 10:38:00 PM |
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