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TRINTA MILHÕES DE REBELDES
Por Antonio Sebastião de Lima na Tribuna da Imprensa
Trinta milhões de eleitores brasileiros disseram NÃO aos dois candidatos à presidência da República, nestas eleições de 2006. Disseram NÃO à roubalheira. Disseram NÃO à política tradicional. Disseram NÃO ao voto obrigatório. Recusaram-se a sujar as mãos. Colocaram a consciência moral e religiosa acima da consciência política. Foram 6 milhões de votos negativos (brancos e nulos) e 24 milhões de ausências, apesar da maciça e intensa propaganda oficial.
O matemático, o "cientista" político e seu instituto de pesquisas podem manipular números, camuflar e mentir. A matemática, porém, sempre exata, não mente. Segundo os dados computados pelo Tribunal Superior Eleitoral - TSE e publicados na rede de computadores, votaram em Luiz Inácio 58.295.042 eleitores e em Geraldo Alckmin, 37.543.178, o que soma 95.838.220 eleitores entre os que estão na lista e os que votaram nos dois candidatos (125.913.479 - 95.295.042).
De acordo com o TSE, 1.351.448 eleitores votaram em branco e 4.808.553 naularam o voto, o que dá um total de 6.160.001 eleitores. Da diferença entre os eleitores alistados e os que votaram nos dois candidatos (30.075.259) subtrai-se o total dos votos negativos (6.160.001). Dessa operação aritmética resulta o número de eleitores que não compareceram às urnas: 23.915.258 (30.075.259 - 6.160.001). No caminho inverso, da soma dos votos negativos (6.160.001) com o número de ausentes (23.915.258) chega-se ao número de eleitores que não votaram, quer em Luiz Inácio, quer em Geraldo Alckmin: 30.075.259 (6.160.001 + 23.915.258).
Em suma, 30 milhões de eleitores brasileiros recusaram, expressa ou tacitamente, o PT, o PSDB e os seus respectivos candidatos. Esse número corresponde a 24% do eleitorado, aproximadamente. Essa ponderável minoria desfruta da liberdade de expressão e parece concordar com a prioridade do bem nacional em face do bem estrangeiro.
Poderá mobilizar-se em defesa do interesse público quando em confronto com o interesse privado. Cabe a esta significativa, lúcida e politicamente consciente minoria, fiscalizar os governantes e apurar a responsabilidade daqueles que se desviarem da legalidade, da moralidade e dos demais princípios constitucionais.
O critério utilizado pelo TSE, fundado nos votos "válidos", exclusivamente, não reflete a verdade eleitoral de modo satisfatório. O voto negativo, como expressão da cidadania e da soberania popular, vale tanto quanto o voto positivo. Revela o posicionamento político, econômico e social de uma parcela do povo em relação ao governo e ao sistema em vigor. O cálculo deve considerar o número total de eleitores alistados: 125.913.479. Desse total, cerca de 46% votaram em Luiz Inácio e 30% em Geraldo Alckmin.
Os eleitores que se manifestaram mediante o voto negativo e os que preferiram ausentar-se das urnas, participaram do processo eleitoral de modo ativo e passivo, respectivamente. Por isso, não podem ser ignorados. São cidadãos brasileiros cuja decisão soberana há de ser respeitada. Esses brasileiros correspondem aos 24% do eleitorado que optaram por manter as mãos limpas, recusando os dois partidos e seus candidatos.
Os políticos tradicionais (corruptos), ainda que simulem ignorância, ficaram cientes de que há brasileiros que não toleram a desonestidade e a corrupção. Esse grupo de brasileiros poderá se organizar e promover uma revolução ética, pela via pacífica ou pela força. Isto poderá acontecer ainda na primeira metade deste século. Os políticos devem colocar as barbas de molho. Minoria composta de 30 milhões de eleitores supera a população de muitos países. As minorias fazem as revoluções. As maiorias acompanham.
A maioria dos partidos adotou a linha do pragmatismo amoral, preocupada exclusivamente com a partilha dos cargos e das verbas públicas, sem compromisso com os interesses nacionais. Ao contrário disso, a minoria parida nestas eleições comunga a idéia de que há lugar para a ética na política brasileira. Os eleitores desse grupo votaram negativo ou se ausentaram porque discordam do "rouba, mas faz", do "sempre foi assim", do pragmatismo divorciado da ética. O caldo vai entornar se a bandalheira prosseguir. No próximo pleito, os rebeldes serão 60 milhões.


Editado por Giulio Sanmartini   às   11/09/2006 01:37:00 AM      |