Entrevistas
Arthur Virgílio
Gerson Camata
Júlio Campos
Roberto Romano - 1ª parte
Roberto Romano - 2ª parte
Eluise Dorileo Guedes
Eduardo Mahon
p&p recomenda
Textos recentes
Arquivo p&p
  
TRAGÉDIA
Por Plínio Zabeu

Uma terrível colisão entre aviões, a trágica morte de 154 pessoas e o enorme prejuízo financeiro nos surpreenderam. Como sempre acontece nestes casos, ao lado do sofrimento sem fim de familiares dos mortos, as autoridades iniciaram as investigações visando esclarecer as reais causas do acidente.
Ambos os aparelhos eram novos, super modernos, dotados de todos os instrumentos necessários para viagens seguras. Do chamado transponder até às antenas que foram idealizadas exatamente para fosse possível prever e evitar colisões, estavam instalados corretamente. Ambos tinham planos de vôo regulamentados e registrados nos postos de verificação. As chamadas caixas pretas, contendo todos os procedimentos dos pilotos foram decifradas.
Ouvíamos opiniões muitas vezes contraditórias. Um repórter americano que estava no avião menor – sem entender absolutamente nada do que falava – diagnosticou o controle aéreo brasileiro como o pior do mundo. Iniciou até uma campanha para que aviões americanos nunca mais voassem por aqui.
As informações continuam contraditórias em muitos pontos, mas, pelo menos uma coisa foi realmente evidenciada: A total falta de cuidados e recursos para prevenção dos acidentes.
Com o movimento dos controladores dos últimos dias de feriados, vieram à tona as causas reais da tragédia.
Principal motivo: Não cumprimento de dotação orçamentária. Não que faltasse dinheiro, já que para conquistar votos o governo pode dispor de bilhões quando quiser.
O governo decidiu que o controle aéreo seria feito pela força aérea. Isso porque fica mais fácil controlar o soldado que o civil. Mas eis que o orçamento foi cortado. Menos de 40% do necessário foi investido. Os controladores estavam trabalhando além do limite possível. Em países prontos, um desses funcionários cuida no máximo de dois ou três aparelhos voando. Aqui cuidam de mais de 12 ao mesmo tempo. Claro, o esgotamento vem. E as falhas acabam acontecendo.
O movimento deles foi eficaz. Na França, ao primeiro sinal de desastre, todos pararam. Nenhum avião ocupou o espaço aéreo do país até que as reivindicações dos controladores fossem aceitas e praticadas. Aqui fizeram uma operação lenta.
O presidente foi surpreendido – como sempre – pelo surto de febre aftosa que tanto prejudicou o país. Contaram pra ele que dos recursos destinados à prevenção da doença, apenas 30% foram liberados. Morreram milhares de vacas. Nada demais. E agora, que vidas humanas se perderam, será que alguma coisa mudará?


Editado por Giulio Sanmartini   às   11/09/2006 01:41:00 AM      |