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A RAINHA FAZ USO DA MÍDIA
Por Giulio Sanmartini, o Observatório da Imprensa
Um grupo de militares egípcios liderados pelo general Mohammed Nagib, em 23/7/1952, derrubou o rei Farouk. O monarca sem trono chegou à Europa para um exílio de ouro e um jornalista lhe perguntou como seriam as monarquias européias no ano 2000. Farouk, sem perder o aplomb, respondeu:
– Em 2000, na Europa, existirão somente cinco reis, os quatro do baralho (ouros, copas, paus e espada) e o da Grã-Bretanha.
Enganou-se em sua previsão o ex-rei. A Europa continua, à exceção da Grécia, que passou a república em 1967, com todas as monarquias daquela época, que não são poucas: Bélgica, Dinamarca, Espanha, Grã-bretanha, Holanda (Paises Baixos), Liechtenstein, Luxemburgo, Mônaco, Noruega e Suécia. Muitos consideram o Vaticano um regime monárquico, que só não é hereditário por motivos óbvios.
Mas o charme da realeza está mesmo na Inglaterra, com todas as tradições. Essa casa real mais do que milenar teve quatro rainhas, e todas, à exceção da primeira Maria (1553-1558), distinguiram-se por sua longevidade no trono: Elizabeth I (1558-1603), Vitória (1837-1901) e a atual, Elizabeth II, desde 1952, não tendo completado ainda 80 anos.
A relação da monarquia, e em especial da rainha, com a imprensa não é nada boa, principalmente com os tablóides escandalosos, que perseguem noras, filho e netos. Por isso, causou surpresa uma notícia veiculada no jornal brasileiro O Globo, de que a BBC teria preparado um tipo de reality show sobre a rotina diária da rainha e que os ingleses, ao saber do fato, já estariam chamando o programa de "Big Brother da Realeza". Surpresa reforçada, quando se sabe que uma reportagem publicada pelo hebdomadário francês Point de Vue teria irritado a rainha pela enésima invasão de sua privacidade, sendo que a matéria se refere exatamente ao dia-a-dia de sua majestade.
Radinho de pilhas
O destaque é dado à famulagem que atende Elizabeth II e seu marido, o príncipe-consorte Felipe: são mais de 1.200 pessoas, entre secretários, pajens, valetes, escudeiros, damas de companhia, chefes de cozinha, camareiros, jardineiros, cabeleireiros, motoristas servindo às residências oficiais Buckingham Palace, Windsor, Baltimore e Sandringham. Ganham salários muito maiores do que a média nacional, com direito a um mês de férias, alimentação, descontos no comércio e até moradia. Desses, 24 são encarregados do guarda-roupa, renovado duas vezes por ano. Inclui, além da roupa normal, 30 casacos de pele, num valor de 3 milhões de euros, 500 chapéus e 150 bolsas.
A rainha é acordada todos os dias às 7h30 por uma camareira que abre as cortinas e lhe dá bom-dia, depois entra outra que a ajuda a vestir-se (muda de roupa seis vezes por dia), outra lhe prepara o banho e ajusta o tubo dentifrício com uma pequena chaveta de prata, para que esteja sempre no ponto de ser usado. Depois toma o breakfast, que consiste de ovos à la coque, torradas, café e água mineral Malverne. Findo isso, entra para receber instruções o valete encarregado de levar para passear os sete cães da raça corgie, que são sua grande paixão. Às 13h, antes do almoço, para abrir o apetite toma uma farta dose de gim, depois come carne com batatas e finaliza com sua sobremesa predileta, pudim de chocolate com sorvete de menta. Na cozinha, onde trabalham centenas de pessoas, há o provador de comida, como na Roma antiga. Pontualmente às 5 da tarde toma chá, que é acompanhado de sanduíches com manteiga e maionese de pepinos. Na ceia normalmente come peixe grelhado.
A rainha usa a mídia com muita simplicidade: pela manhã, um valete lhe leva os jornais, mas ela dispensa The Times e Financial Times, preferindo os especializados em turfe, outra de suas paixões; à noite, como boa vovó, gosta de jantar vendo televisão. A forma mais plebéia de seu uso da mídia acontece durante o café-da-manhã, quando da gaveta da mesa tira um velho radinho de pilhas e ouve as primeiras notícias do dia.


Editado por Giulio Sanmartini   às   11/03/2006 12:56:00 PM      |