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AMBIGÜIDADE VAI CONTINUAR
Por Miriam Leitão em O Globo
Os jornais estão cheios de notícias de que na reunião de quarta-feira com alguns ministros e o presidente do Banco Central, o presidente Lula determinou que parasse o debate público de integrantes do seu governo em torno da política econômica. Alguns estão interpretando que isso representa o fim das divergências e que o desempate foi a favor de mais austeridade. Outros analistas acham que o que ficou claro na reunião foi o desconforto do presidente do Banco Central, sozinho na defesa de manutenção da política econômica mantida até aqui.
Acho particularmente que as divergências vão continuar porque as ambigüidades são do próprio presidente. Ele continuará dando sinais conflitantes, e o governo continuará tendo debates como este desta semana. Hoje mesmo o conflito de opiniões de pessoas com acesso ao gabinete presidencial continua em declarações feitas a diversos jornais.
O prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, que esteve com o presidente e é um ministeriável disse que: o ministro Guido Mantega fica; a diretoria do Banco Central não terá seu mandato renovado agora e não fica; o presidente do Banco Central “pode ficar”. Segundo o prefeito, que é uma estrela ascendente no PT, por seus próprios méritos e pelas muitas baixas ocorridas no partido, Meirelles fica mas no seguinte contexto: “De repente pode ser ele, porque políticas econômicas, o sujeito pratica outra, muda. Não está carimbado na testa dele que vai ser um eterno defensor dos juros altos”. Ou seja, ele fica se mudar de idéia.
Pimentel cobrou que o Banco Central reduza os juros rapidamente e disse que os juros não têm cabimento. Os juros estão altos mesmo, tenho escrito sempre isso. Não apenas pela comparação com outros países, mas sim pelo fato de que a taxa de inflação ficou bem mais baixa do que a meta. Isso é uma indicação de que a dose foi alta demais. Por outro lado, quando se tira do Banco Central a autonomia de fixar as taxas, quando políticos dizem o que o BC tem que fazer, o banco perde a credibilidade. Quando isso acontece, aumentam as expectativas de alta da inflação. Isso normalmente leva a mais inflação.
Crescimento todo mundo quer. A divisão que existe é entre os que acham que isso se faz aumentando o gasto público e pela decisão “política” de crescer mais; e os que acham que o crescimento acontece quando o estado reduz os gastos com sua manutenção para ter mais recursos para investir e ao mesmo tempo tira os obstáculos ao investimento do setor privado. Hoje a maioria do governo Lula está no primeiro grupo, inclusive o ministro da Fazenda. Portanto, vai continuar a ambigüidade e os sinais de que basta tirar o Banco Central da frente que o crescimento acontecerá. O pior erro que Lula pode cometer agora é o de politizar o Banco Central.


Editado por Giulio Sanmartini   às   11/03/2006 04:16:00 AM      |