Por Fabio Grecchi na Tribuna da Imprensa
Aos poucos vão surgindo evidências de que o caos no sistema aéreo brasileiro é, antes de mais nada, administrativo. Acompanhando a sessão no Senado que procurou esclarecer a questão, saltou aos olhos a lentidão da Aeronáutica e do Ministério da Defesa na tomada de decisões. Foi preciso que houvesse uma minicrise do final da semana passada para cá para que resolvessem alterar as rotas de entrada e saída do País, como forma de desonerar o Cindacta da capital. Ouvindo o ministro Waldir Pires (Defesa), conclui-se que não faltaram recursos, pois, segundo suas próprias palavras num breve embate com o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) - os dois são desafetos públicos -, não houve contingenciamento por parte do governo. Da mesma maneira o comandante da Aeronáutica, Luiz Carlos Bueno, afirmou que o software que cuida das operações é de última geração, completamente nacional e substituiu o similar francês. Outros brigadeiros que participaram da explanação salientaram que o equipamento de controle do vôo brasileiro é o que há de mais moderno.
Mas no final a Aeronáutica já admitia que poderia haver falha do operador do vôo na tragédia do avião da Gol. Uma maneira, ao que parece, de fulanizar o caso, de entregar uma cabeça à opinião pública. Reportagem que foi ao ar domingo, pela Rede Globo, provou por A + B que antes do choque do Boeing com o Legacy outros três desastres de grandes porporções poderiam ter acontecido. Um, aliás, envolvendo um Brasília da Força Aérea Brasileira, que passou a poucos metros de um avião comercial. Inclusive a média de distância entre dois aviões em cada um dos episódios foi de 100 metros. Se houve falha humana também nos três fatos relatados pela reportagem - que não faz qualquer menção a isto, mas admitamos a hipótese -, já era a confirmação de que alguma coisa estava errada. Sinal suficiente para que a luz vermelha estivesse acesa na Aeronáutica e na Defesa. Mas o pior: se já estava - mesmo porque, o primeiro quase-desastre data de janeiro -, as soluções demoraram tempo demais. De lá para cá 154 pessoas morreram, os operadores se revoltaram contra as condições de trabalho - foram apontados como os culpados imediatos pela tragédia, pois 18 foram afastados -, uma operação-padrão praticamente paralisou o tráfego aéreo do País semanas atrás e o esquema de emergência montado pela Aeronáutica fracassou com a nova série de atrasos.
Editado por Giulio Sanmartini às 11/22/2006 12:29:00 AM |
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