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PASSAGEIRA ACIDENTAL
Por Adriana Vandoni

Ai meu Deus, detesto chegar atrasada, mas com este trânsito... como saber a que horas devo sair de casa. Taí, veja o tamanho da fila. Vou enfrentar!, fazer o que!. Em todos os guichês a fila anda, menos a minha fila que a atendente parece ser lerda, ou novata, tudo bem, tenho que entender, ela está aprendendo, né?
Impaciente olho para o relógio mais de mil vezes. Na fila ao lado uma mulher, afogada em malas, caixas, caixotes e uma gaiola com um cachorro, comentava com outro passageiro sua felicidade por sua cachorrinha poder viajar junto, sem precisar ser despachada com as malas.
Ai céus!, era o que faltava. Um cão dentro do avião. Fiquei então prestando atenção para saber qual o destino da cachorrinha. A atendente perguntou à mulher:
- Qual o destino, senhora?
- Cuiabá.
Nãaaaaooooo. Não podia ser verdade! A cachorrinha ia no mesmo vôo que eu. Que saco! Chegou a minha vez de ser atendida.
- Tem preferência por algum acento, senhora?
- Sim, por favor, veja se tem uma poltrona bem longe desta cachorrinha ao lado. Veja na parte de trás do avião.

A parte de trás é sempre melhor, apesar de balançar mais, dificilmente viajam cachorrinhas ou mães com criancinhas que sentem dor no ouvido e beeeerram o vôo inteiro.
- Vou estar colocando a senhora na janela da penúltima fileira, pode ser?
- Sim, pode estar me colocando onde você quiser, desde que mantenha este animal longe de mim. Obrigada.

Ufa! Consegui sobreviver ao check-in e ainda tinha tempinho comprar um livro ou uma revista, mas tinha que ser rápida. Tudo certo, um livro de Luiz Fernando Veríssimo comprado, balinhas, quando a voz chama os passageiros do vôo ZYXK com destino a Cuiabá. Essa é uma hora que eu curto. As pessoas parecem sofrer de síndrome de fila. Mesmo tendo seus acentos reservados, todos se levantam ao mesmo tempo com malas e sacolas despencando, e animal, como no caso da passageira, e ficam em pé, o engraçado é que ficam reclamando. Ah, é diversão garantida ficar olhando a cara das pessoas na fila.
Entrei por ultimo e fui lá pro fim do avião. Que maravilha, lá atrás não estava lotado. Na minha frente tinha um homem se preparando para abrir seu Notebook, atrás um funcionário da companhia, ao lado ninguém. Beleza!, Vou ter tranqüilidade pra ler e quem sabe até saio com um artigo.
Decolamos e tudo ia bem, começou o serviço de bordo com aquele empapado sanduíche de nada com pão, acompanhado de refrigerante quente com uma pedrinha minúscula de gelo. Isso é um horror. Como só como em avião em caso de extrema necessidade, pedi meu refrigerante:
- Por favor, não encha o copo, coloque mais gelo que refrigerante, ok?
UAU! Desta vez fui premiada com duas pedrinhas de gelo, já posso me considerar uma sortuda. O homem à minha frente comeu e bebeu, sem parar de mexer no computador. De vez em quando ele ria. Tentei ler o que estava na tela do computador dele, mas acho que meus óculos estão fracos, não consegui enxergar nada. Mas ele estava na dele, sem incomodar ninguém.
Eu lia e anotava coisas engraçadas que encontrava no livro, totalmente concentrada nos meus pensamentos quando de repente escutei um barulho. O homem da frente tinha acabado de comer, desligado seu computador e resolveu dormir. Normal se não fosse um detalhe. A praga ronca!
Aquilo foi me tirando do sério. Aquele barulho foi me tumultuando. Fechei a mesinha que estava usando para escrever, com toda força para assustá-lo. Ele deu uma mexidinha, mudou de posição e voltou a roncar. Caramba!
Devia ser proibido quem ronca viajar. Ninguém é obrigado a escutar ronco de ninguém. Fechei meu livro, meu bloquinho de anotações, guardei tudo e me coloquei no que chamei de cruzada contra o ronco.
Mudava de posição, batia minha cabeça na poltrona do cara, trançava as pernas. Fiz de tudo. Uma hora ele se virou e me olhou como se fosse um búfalo e eu com aquela cara de passageira acidental, olhei pra ele e disse com uma voz angelical:
- Ai, me desculpe, eu o acordei! Que vergonha!, Desculpa, tá? Como sou desastrada!
Hehehe!, Consegui! Acordei o cara! Mas foi ele dormir que o ronco voltou. Oh céus!, e a cachorrinha lá frente quietinha. Tudo bem, ele voltou a roncar?, ok! Eu comecei tudo de novo. Desta vez abri a mesinha. Como ele não se mexeu e continuou roncando, eu a fechei com toda força. Ele levou um tremendo susto. Pensei: desta vez eu apanho!, mas quando ele ia se virando para trás, uma voz avisou que estávamos pousando no aeroporto de Cuiabá.
Atazanei o homem o tempo todo, mas... se ele passou raiva, o que fazer?, antes ele do que eu. E roncadores deviam ser proibidos de viajar e se viajassem, proibidos de dormir. Ou então, deveriam ser despachados junto às malas.


Editado por Adriana   às   11/21/2006 09:02:00 PM      |