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BIODISEL, PETRÓLEO E AGROENERGIA
Por Onofre Ribeiro

Possivelmente os mais novos sequer tenham ouvido falar nas duas grandes crises do petróleo: a de 1973 e a de 1979. O que elas têm a ver com os dias atuais? Têm tudo a ver a partir da inauguração da usina de biodiesel da Destilaria Barralcool, em Barra do Bugres, Mato Grosso, no dia de ontem. A sua importância pode ser medida pela presença do presidente da República e pelo seu entusiasmo.
Mas não ficaria muito clara a importância da produção de biodiesel sem a discussão de uma série de fatos conexos.Tampouco, falar sobre agroenergia, um conceito novíssimo nesse complexo mundo moderno das energias. O primeiro, as duas crises do petróleo se deram por razões políticas envolvendo os países exportadores e a política mundial. Em 1973, o barril de petróleo saiu de US$ 3 para 16, deixando um déficit de US$ 11 bilhões aos países industrializados e de 40 bilhões aos países subdesenvolvidos.
Para contrabalançar o endividamento externo provocado pela importação de petróleo, o Brasil iniciou um programa de álcool de cana, chamado Proalcool. Pela falta de tecnologia, o álcool saía muito caro, mas amenizava o endividamento nacional. Quando a crise acabou, ficou mais barato comprar petróleo do que continuar produzindo álcool no país. Nesse momento, os carros movidos a álcool perderam mercado e desacreditou-se o Proalcool.
Mas nascia ali um conceito caboclo de agroenergia, a energia derivada de biomassa vegetal. Nos anos seguintes, o óleo diesel subiu a preços altíssimos no Brasil, provocado, principalmente pelos impostos nele embutidos. E já encontrou um país muito mais industrializado e consumidor de grandes quantidades de óleo diesel na sua agricultura que saltou de 36 para 125 milhões de toneladas anuais de grãos entre 1973 e 2006. Em Mato Grosso o óleo diesel representava US$ 17,5 na safra 2001/2002, e US$ 45 na safra 2005/2006.
Nesse ambiente de produção do agronegócio e do frete correspondente, em 2001/2002 o frete de Sorriso ao porto de Paranaguá custava US$ 46, contra os atuais US$ 100, provocados pelo custo do diesel.
Esse universo justificou que os produtores criassem o seu “biodiesel caipira” nas próprias fazendas, a partir da soja, mesmo com prejuízo para os motores dos caminhões e dos tratores. Ainda assim ainda é mais barato do que usar o diesel.
Portanto, quando se inaugura uma fábrica de biodiesel num estado com esse perfil, está se construindo uma estratégia a que se chama de agroenergia, que seria uma repetição mais eficiente e melhor estruturada do álcool dos anos 70.
Concretamente, o futuro dos combustíveis fósseis, tão sujeitos aos humores da política internacional, terão em alternativas como o biodiesel e o Hbio, uma nova vertente extremamente vantajosa para o Brasil no cenário mundial. Tanto do ponto de vista econômico, como político e até social. O futuro do petróleo será cada vez mais político, e dos combustíveis alternativos, cada vez mais estratégicos e sociais.
Voltarei ao assunto.

onofreribeiro@terra.com.br


Editado por Giulio Sanmartini   às   11/22/2006 12:21:00 AM      |