Por Fabio Grecchi na Tribuna da Imprensa
Embora a reclamação do deputado Michel Temer (SP), presidente do PMDB, tenha um quê de ciúmes, tem razão quando condena o governo por negociar no varejo o apoio do partido. Até agora, o presidente Lula convocou para conversar apenas peemedebistas do bloco que o apoiou no primeiro e no segundo turno da eleição - como os governadores Roberto Requião (PR) e Sérgio Cabral Filho (RJ) -, como forma de aumentar o leque de interlocutores na legenda, restrito aos senadores José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL). Daqueles que mantiveram eqüidistância ou então fecharam com Alckmin, ninguém recebeu convite para ir até o Palácio do Planalto. O próprio fato de Temer não ter sido convocado já é sintomaticamente ruim. Mostra que os contatos não têm sido institucionais. Ainda que o partido seja, de fato, um amontoado de grupos que não necessariamente fecham uns com os outros, aqueles que sempre estiveram contra o governo - como o de Anthony Garotinho - sentem-se naturalmente excluídos, pois o presidente nacional do PMDB, quem é que tem condições de decretar ordem unida e fazer todos marcharem numa direção só, está à parte de todo o processo.
E a menos que o problema seja corrigido a tempo, será um complicador para o governo. Mesmo investindo na eleição - ou reeleição - dos presidentes das Casas do Congresso para botar cangalha no partido, Lula continuará contando apenas com aquela parcela do PMDB que cedeu aos seus encantos e, a partir disto, recebeu benesses. Para quem pretende realizar uma reforma política profunda (embora aqui jamais se acreditasse nesta hipótese), bem se vê que continuará apenas na agenda e no desejo. Não é apenas isto. A eleição solteira de 2008 fará governo, via PT, e PMDB se engalfinharem pelo controle das capitais e das cidades importantes. Tome-se por exemplo São Paulo: desde já Marta Suplicy é nome que se coloca na disputa para retornar ao Palácio das Indústrias. Vale lembrar que os peemedebistas paulistas são extremamente arredios a qualquer espécie de composição com os petistas. E não é para menos: quando ela disputou, em 2004, contra o hoje governador eleito José Serra, esnobou Temer, Orestes Quércia e sua gente. Ao negar-lhes a vice na chapa para dá-la a Ruy Falcão, jogou fora a possibilidade de ter o PMDB estadual já comprometido com a reeleição de Lula e mesmo com a candidatura de Aloízio Mercadante ao governo estadual. O que se viu foi Temer pendendo na direção de Alckmin depois do naufrágio de Garotinho na greve de fome e Quércia enfrentando Eduardo Suplicy pela cadeira do Senado. É público que Lula e Temer são bicudos que não se beijam, mas o presidente do PMDB não está cobrando assento entre os comensais do Palácio do Planalto. Quer aquilo que, por interpostas pessoas, ficou apalavrado. Do contrário, a concertação de que falou o ministro Tarso Genro, ou a coalizão que tem sugerido Lula, serão apenas termos mal-empregados para uma política que continua sendo a do "é dando que se recebe".
Editado por Giulio Sanmartini às 11/15/2006 01:42:00 AM |
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