Editorial do Jornal do Brasil
Vem do Congresso a maior evidência do espetáculo de sordidez protagonizado por políticos e partidos brasileiros. A mais democrática das instituições nacionais tem a oferecer hoje pouco mais do que uma combinação de oportunismo, delinqüência e hipocrisia. Culpa dos vícios de longa data e de um passado de sinal trocado: boa parte da oposição de hoje se comporta com a mesma irresponsabilidade com que agia o bloco parlamentar encabeçado pelo PT durante o governo Fernando Henrique. É o que prova, por exemplo, a tentativa da fronda oposicionista de conceder aumento a aposentados e pensionistas em patamares irreais. Pretendiam os governistas do passado reajustar em 16,67% o valor das aposentadorias e pensões do INSS. Apresentada pelo PFL, a proposta não passou na Câmara, e foi mantida a correção de 5,01% de reajuste, conforme fixara medida provisória assinada pelo presidente Lula.
A oposição repetiu a insensatez de junho. Pela MP, apenas os segurados que recebem o piso seriam beneficiados pelo reajuste de 16,67%. Os demais teriam 5%. Cientes de que Lula vetaria a mudança, parlamentares lançaram sobre os ombros do presidente o ônus político da decisão certa, mas impopular. (Se vigorasse a regra pretendida pelo PFL, estaria aberta uma cratera de R$ 7 bilhões ao ano nas contas nacionais). Vencidos pelo veto, voltaram à carga. Não satisfeito, o senador do PFL Efraim Morais apresentou e o Senado aprovou o projeto que institui o 13º salário para o Bolsa Família. Se Lula fraquejar, entrar no jogo das benesses artificiais e não vetar o projeto aprovado, o impacto será de R$ 700 milhões por ano nas contas. O problema desse petismo tardio dos oposicionistas é não só repetir a hipocrisia que combateram quando estavam no poder quanto trair as próprias convicções sobre a primazia da defesa das finanças públicas contra o oportunismo eleitoreiro. Negar reajustes mais robustos aos idosos, ressalve-se, não é uma questão de maldade. PFL e PSDB sabem que, nas sociedades democráticas, também a oposição integra as instituições de governo. Têm o direito e o dever legítimos de denunciarem os erros do adversário e cobrar-lhe maior competência. Mas não podem impor derrotas cujo preço será pago pela coletividade. Os exemplos não param aí. Conforme mostrou reportagem do JB, a CPI dos Sanguessugas corre o risco de morrer de inanição. A menos de um mês do fim e sem o fôlego do período pré-eleitoral, a comissão está esvaziada. Nada adiante deve surgir além da lista de 71 parlamentares acusados de envolvimento com a venda superfaturada de ambulâncias. O Brasil ficará sem respostas, por exemplo, sobre a participação do Planalto no esquema e a origem do dinheiro usado na tentativa de compra do dossiê forjado para incriminar candidatos tucanos. A oposição sumiu. O bloco governista nunca demonstrou muito interesse nas investigações. Reuniões amargam falta de quorum. Centenas de pedidos de informação aguardam votação. Enquanto isso, a eleição para a presidência da Câmara e do Senado já começou a produzir os primeiros embates cuja conta, no fim, será paga pelo contribuinte. O PT, por exemplo, já adiantou que defenderá um aumento de 30% para os deputados a partir de 2007. Todo Congresso, costuma-se dizer, tem de tudo. Mas quantos parlamentos do mundo apresentam tantas lambanças? Quantos têm um em cada cinco de seus integrantes, do governo ou da oposição, sob investigação ou respondendo a inquérito por delitos diversos? Quantos exibirão um cardápio tão farto de ociosidade, oportunismo e escárnio?
Editado por Giulio Sanmartini às 11/23/2006 04:46:00 AM |
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