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LUTA DE CLASSES
Guilherme Fiuza

Lula está conduzindo bem a transição para o seu segundo mandato.

Comportamento altivo, deixou de lado o tom ideológico pueril com que se dirigiu ao país no discurso da vitória (nunca antes na história deste país se viu um presidente contar tanta vantagem) e assumiu uma postura digna de estadista. Resta saber se está apenas se contendo para voltar ao sectarismo em 1º de janeiro.

Se o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, é uma das vozes que dizem o que Lula pensa (e é), há nuvens negras no horizonte. Genro, o incendiário moderado, acaba de esculhambar o discurso governista de que a eleição não mostrou um país divido entre ricos e pobres. Está dividido sim, afirma agora o ministro.

Em artigo no site do PT, ele não faz por menos. “Denuncia” uma articulação da direita, com apoio da imprensa e tentativa odiosa de lavagem cerebral por parte das classes média e alta contra a classe baixa. O plano anti-Lula, segundo Genro, teve também o apoio das agências de classificação de risco.

Nem o nosso Delúbio foi tão dramático em seu célebre pronunciamento para se inocentar do mensalão.

Como bom petista, Tarso Genro está, é claro, do lado do bem. E dos pobres. Agora que o núcleo duro está desfalcado de Marcos Valério, vai ser difícil arrecadar dinheiro sem ressuscitar a história comovente do povo trabalhador oprimido pela direita.

Está de volta a Luta de Classes S.A.

É dramático ver um governo no Brasil, com o incomensurável poder que tem sobre a sociedade, colocando-se no papel de vítima indefesa. Tarso Genro ressuscitou um trecho perigoso do discurso triunfalista de Lula no dia da eleição, em que se congratulava com o eleitorado que votara nele, excluindo de qualquer menção positiva a parte do país que escolhera o outro candidato.

Semana passada, com Hugo Chávez, Lula voltou a criticar a imprensa e “as elites” do Brasil. Agora Tarso Genro dá mais um ponto nessa costura e avisa que não há vestígio de populismo no governo. Entretido nesse vestibular para Venezuela, evidentemente não está ligando o nome à pessoa.

Essa brincadeira de insuflar uma divisão nacional entre coitados e cruéis, entre nós e eles, pode funcionar bem para arrebanhar militância e arrecadar dinheiro. Para a vida institucional do país, é um barril de pólvora.



Editado por Anônimo   às   11/22/2006 10:46:00 PM      |