Por Adriana Vandoni
A última de Lula, meu eterno muso, é querer um governo unânime, na paz, na harmonia. Para facilitar seu diálogo com o legislativo e poupar-lhe alguns milhões, o primeiro passo foi cooptar governadores para que estes pressionem as bancadas de seus estados. Estrategicamente correto. Mas é impossível administrar o país apenas adquirindo governadores, o governo precisa do legislativo. Aí veio o segundo passo. Está chamando as oposições (!?!) para conversar. Fechou com o PMDB inteiro, básico! O partido fez um pacotão. Mesmo um ou outro esperneando ou fingindo espernear, o PMDB está aí para fechar com o governo, seja ele qual for. Mas Lula quer mais. Lula não se contenta com maioria, ele quer tudo e todos concordando com ele. Sob o manto do “pelo Brasil” ou “pela governabilidade” ou ainda, “quem é civilizado vem conversar comigo”, ele está chamando todos os partidos para uma conversa sobre os rumos do país. Espero que o rumo do país seja a permanência da democracia que por sua vez é antagônica à idéia de unanimidade.
O papel de Lula é esse. Mas qual é a oposição que Lula chamou para conversar? Ah sim, ele deu carona a Arthur Virgílio no seu aviãozinho. Virgílio entrou feroz e saiu manso, mas da tribuna se disse indignado com a reação contrária à sua postura. Chamou os críticos de maniqueístas. Mas a preocupação, pelo menos minha, não é saber se o senador é um homem que “nunca se recusou a entendimentos” (palavras dele), a preocupação é com o papel que deve ser cumprido por um e por outro partido. Lula está no papel dele e do PT. É um presidente da república que imagina fazer do país um grande Woodstock onde todos fiquem numa boooa, na paaaaz, na harmoniiiiia. Decorou seu script certinho. Só que isto aqui não é um festival. Isto aqui ainda é um país e um país que vive uma democracia com todos os ônus e bônus que ela deve ter. Se quisermos manter uma democracia minimamente digna, é bom que os partidos que ainda não se encantaram com a conversa do divino Lula, se tratem desse transtorno bipolar do qual parecem sofrer. No primeiro mandato de Lula, os que estavam fora da base aliada, inibidos (prefiro pensar assim), desempenharam uma oposição covarde. Não podem agora ser irresponsáveis e em nome da subjetiva e enjoativa palavra governabilidade, participar do que o presidente chama de governo de coalizão. Não acredito em governos de coalizão, isso não existe. Um governo que não tem oposição política, não tardará para colidir com os interesses do povo. Será um governo de colisão popular. Esses partidos que ainda estão na oposição, em especial o PSDB, precisam deixar claro o que pretendem, definir quem são e a que vieram. Isso não é maniqueísmo, isso é ter partidos com personalidade, não partidos portadores de transtorno bipolar. Por hora, estão como naquela historinha em que um cliente pechincha, pechincha, oferece cinquentão e continua pechinchando. Daí a prostituta já cansada da enrolação aceita fazer o serviço, mas com uma condição: “Tudo bem, eu aceito fazer por cinqüenta, mas beijo na boca NÃO!”.
Editado por Adriana às 11/25/2006 08:53:00 PM |
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