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ALGO ESTRANHO ACONTECE NO AR
Por Augusto Nunes no Jornal do Brasil

“O único avião que sai na hora (com deslumbrados convivas) é o Aerolula”, constatou o jornalista Elio Gaspari. E na hora escolhida pelo Primeiríssimo Piloto, pode-se acrescentar. Enquanto o rebanho nacional de passageiros espera, amontoado nas salas de embarque, pousos e decolagens que só existem na cabeça do ministro Waldir Pires, o presidente governa partidas e chegadas pontualíssimas.
O desfrute desses requintes a bordo do grande pássaro da pátria tem seu preço, começa a desconfiar o resto do Brasil. Para milhões de flagelados do apagão aéreo, o anúncio de atrasos de uma hora já ecoa como graça alcançada. Reagem com o sorriso dos vitoriosos. Vida que segue, começa a resignar-se a nação dos conformados. Estranhamente, quem anda sofrendo alterações de comportamento é a turma que viaja no avião presidencial.
Lula, por exemplo, vem apresentando sintomas de uma forma não catalogada de jet lag, mal que afeta quem passa horas no ar e sofre a mudança do fuso horário. O relógio biológico se desconecta do que mede o tempo externo.
No caso de Lula, pouco importa a duração da viagem, o efeito é o mesmo: ele fica sem saber direito o que é. Às vezes, desembarca como presidente no pleno exercício do cargo. Outras, desce como presidente eleito, absorvido pela montagem do novo governo enquanto aguarda o dia da posse.
Freqüentemente, incorpora o eterno candidato louco por um palanque. Em dias de especial inspiração, encarna as três versões numa única viagem. Isoladamente ou fundidos no mesmo corpo, todos os personagens parecem muito confusos. Falam demais. Colecionam gafes e disparates.
Na recente visita a Mato Grosso, desembarcaram por lá todos os Lulas. “Já que tem microfone e tem gente, vamos falar”, decidiu o candidato. O presidente em exercício brindou com 14 quilômetros de estrada o governador Blairo Maggi, a quem se referiu como “Magri” e “Bagre”.
Ainda tripulando o chefe de governo, produziu as gabolices de praxe. “Houve um tempo em que disseram que o presidente Lula não gostava da agricultura”, homenageou-se o maior dos governantes, que há meses preside o colapso de numerosas atividades rurais. E então emergiu o presidente eleito, pronto para roubar a cena em Mato Grosso.
“Vou destravar o Brasil”, repetiu. Como assim? Quando? De que modo? Tais enigmas podem esperar um pouco mais. “Não me pergunte o que é ainda, que eu não sei”, ressalvou. “E não me pergunte a solução, que eu não tenho, mas vou encontrar porque o Brasil precisa crescer”. Não há motivos para inquietação, garantiu. Até 1º de janeiro, Lula haverá de desmatar as trilhas que nem sequer enxergou em quatro anos no poder.
Por falta de tempo, certamente: só agora o país está deixando o homem trabalhar. Mas é preciso que a oposição deixe de fazer oposição, condicionou. Com todo mundo a favor, o espetáculo do crescimento enfim poderá começar. Será bonito contemplá-lo da janelinha do Aerolula..


Editado por Giulio Sanmartini   às   11/26/2006 10:47:00 AM      |