Entrevistas
Arthur Virgílio
Gerson Camata
Júlio Campos
Roberto Romano - 1ª parte
Roberto Romano - 2ª parte
Eluise Dorileo Guedes
Eduardo Mahon
p&p recomenda
Textos recentes
Arquivo p&p
  
TRAPAÇA DA GROSSA

por João Luiz Mauad em Mídia sem Máscara
Definitivamente, estimado leitor, não dá para confiar nesse governo que aí está. Toda e qualquer informação deve ser confirmada, checada e analisada com muito cuidado, pois a possibilidade de estarem querendo nos engabelar é imensa. Tratam-nos como a um bando de imbecis, nos informam apenas o que lhes interessa politicamente (talvez melhor seja falar eleitoralmente), omitem tudo que lhes possa criar embaraço e mentem. Mentem descarada e solenemente, sempre visando, única e exclusivamente, as suas próprias conveniências. E o pior: contam com o beneplácito de uma imprensa complacente, seja por interesses econômicos ocultos, seja por um total e absoluto despreparo intelectual e profissional.
Lembram-se da auto-suficiência em petróleo, cantada em prosa e verso por aquele que nunca sabe o que importa, mas que decora números e estatísticas melhor do que alguns experientes atores de teatro? Lembram-se da propaganda maciça e inclemente da Petrobrás, no início do ano (eleitoral!), nos mostrando como ela é eficiente? Lembram-se da fotografia da famosa mão tetra-digital ensopada de ouro negro? Lembram-se da farra publicitária, para mostrar aos súditos de Sua Majestade o quanto deveríamos ser-lhe gratos por tamanha benção? (Aliás, esse pessoal das estatais adora falar de uma tal “governança corporativa”, mas do que eles gostam mesmo é de uma boa “gastança corporativa”).
Pois bem, nobre amigo, era tudo cascata. Mentira da grossa. Duvida? Pois então vá ao site da ANP (http://www.anp.gov.br/petro/importacao_dados.asp) e confirme você mesmo. Veja lá que importamos US$ 6,353 bilhões em petróleo cru e exportamos US$ 4,131 bilhões, no período de janeiro a agosto deste ano. Isto corresponde a um déficit nominal de US$ 2,222 bilhões até agosto. Em valores físicos, importou-se 91,24 milhões de barris e exportou-se 78,73 milhões, perfazendo um déficit total de 12,5 milhões de barris.
Aliás, eu gostaria muito que alguém desse uma explicação para uma questão que deixou-me, por assim dizer, embasbacado. A nossa gloriosa Petrossauro (Ave! Mestre Roberto Campos) importou petróleo cru a um preço médio de US$ 69,06 por barril (FOB) e vendeu ao exterior o nosso valiosíssimo “produto estratégico”, retirado de nossas reservas nacionais “estratégicas”, por um preço médio aproximado de US$ 52,46 (veja tabela abaixo). Tudo bem, tudo bem, eu sei que há diferentes qualidades de petróleo, mas uma diferença média de US$ 17 por barril? Que diabos de petróleo é esse que temos aqui, que vale perto de 20% menos que os outros?
A mesma ANP mostra que a produção total de petróleo no Brasil, de janeiro a agosto, somou 413.789.403 milhões de barris, o que dá uma média diária de 1.724.122 barris. Isto ainda é muito inferior à meta de 1,9 milhão de barris diários, necessários, segundo do diretor de exploração e produção da Petrobrás, Guilherme Estrela, para que alcançássemos a famigerada auto-suficiência. Segundo este mesmo diretor, falando à Agência Estado, malgrado todos os esforços da BR, está muito difícil atingir a meta até dezembro. (Se a minha matemática não estiver errada, o país precisaria produzir, entre setembro e dezembro, uma média diária de 2.25 milhões de barris diários para fechar o ano dentro da meta (da real auto-suficiência) de 1,9 milhão.
Guilherme Estrela é, provavelmente, um técnico preocupado com metas de produção e outros fatores objetivos. Seria, se isto aqui fosse um país sério, a pessoa mais qualificada para informar, à plebe ignara, sobre um assunto eminentemente técnico. Mas, em Pindorama, não é assim que as coisas funcionam. O diretor da área foi devidamente atropelado pelo excelentíssimo senhor ministro das minas e energia, Silas sei lá das quantas, que em entrevista ontem, 18/10, em São Paulo, garantiu, peremptoriamente, que a “meta será atingida”. Ponto. Só faltou completar com o velho jargão “doa a quem doer”. Provavelmente, o ministro está mais bem informado que o diretor da área.
O que mais me espanta, quando olho para esses números e assisto ao festival de desinformação governista, não é nem a grande trapaça que eles acobertam, até porque eu já ando meio que vacinado contra as fraudes dessa turba torpe e sem escrúpulos que anda lá pelo Planalto Central. O que realmente assombra é a total complacência dos meios de comunicação. É a sua capacidade, pelo menos quando o assunto é Petrobrás, de não enxergar meio palmo adiante do nariz. Mas isto também tem uma explicação, estimado leitor. De acordo com o deputado Alberto Goldman, a Petrossauro gastou em publicidade, só no primeiro semestre do ano, a bagatela de R$ 134 milhões. Vai que esta “deusa magnânima”, que não tem concorrentes no mercado e, por isso, não carece de tanta gastança em propaganda, se enfurecesse e resolvesse parar com tal orgia publicitária. O que seria dos pobres jornais e TV’s desse país?


Editado por Giulio Sanmartini   às   10/20/2006 01:46:00 AM      |