Por José Inácio Werneck em Direto da Redação. Bristol (EUA) – Baiana é aquela que mexe, remexe e dá nó nas cadeiras…. A música popular sempre cantou nossa flexibilidade, nossa malemolência e mesmo no futebol a famosa frase de Garrincha de que todo europeu (ou, como ele definia, o “João”) tem cintura dura serviu para marcar nossa escola. É a picardia, se quiserem, uma certa propensão para desfeitear a autoridade, o poder e, em última análise, a lei. Há as leis que pegam e as que não pegam. Para voltar ao tema do futebol, o locutor e compositor Ari Barroso, famoso entre outras coisas por sua desvairada paixão rubro-negra, afirmava que o gol de seu time que mais lhe dava satisfação era o feito com a mão, em impedimento, nos descontos. Tais graças tornam o Brasil um país interessantíssimo. Até a esquerda, que em outras nações partia para lutas sangrentas, entre nós acabou conhecida como festiva, amiga do chope, da praia e da Banda de Ipanema. Nosssa direita também sempre foi dada aos jeitinhos, optando por uma série de generais no poder, numa espécie de motel de alta rotatividade, em vez do modelo chileno e pouco imaginativo de um só Pinochet para atrair as iras populares.
Outro dia perguntei a uma estrangeira qual foi a primeira impressão que teve do Brasil. Respondeu-me, em inglês: “Colourful”. É algo que ninguém diria ao chegar um dia ao aeroporto de Helsinque, na Finlândia. E, entretanto, o país de maior desenvolvimento do mundo, o país mais competitivo do planeta, o país de melhores índices sociais, é a monocromática terra escandinava. Por isto, ao acompanhar de longe a eleição brasileira, sinto que um dos candidatos deveria dirigir-se ao público e dizer: “Damas e cavalheiros, proponho acabar com o jeitinho para levar o Brasil para a frente e impulsionar nossa economia”. Seria derrotado, é claro, mas estaria falando a verdade. O jeitinho vai da gorjeta ao guarda de trânsito aos dólares na cueca do operador político. As estatísticas mostram que nosso país está marcando passo há anos, enquanto outras economias no resto do mundo, e até na América Latina, avançam com rapidez. É doloroso comparar o crescimento da China, da Índia, de Cingapura e de Hong-Kong ao nosso. O jeitinho é corrupção, palavra que sgnifica corroer, apodrecer, degradar, e corrupção é crime. O crime custa dinheiro, pois os investimentos que precisam ser feitos em educação, em transportes, em tecnologia, para desentravar o país, são aplicados na segurança coletiva. E como poderia ser de outra forma, em cidades como São Paulo, onde em maio cerca de 200 pessoas foram mortas numa guerra de bandidos? O índice de homicídios no Brasil é seis vezes superior ao da Costa Rica. Mas em nosso país, mesmo quem não é assaltado pelo malfeitor na esquina paga. O Banco Mundial informou ao governo brasileiro no último mês de setembro que a renda per capita anual do brasileiro seria 200 dólares maior e nosso produto industrial bruto cerca de cinco por cento mais robusto se tivéssemos uma média de assassinatos tão baixa quanto a da Costa Rica. O crime não tem jeito?
Editado por Giulio Sanmartini às 10/20/2006 12:51:00 AM |
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