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REVENDO POSIÇÕES
Por Fabio Grecchi na Tribuna da Imprensa
Ficou vidente que Geraldo Alckmin estava entre o constrangido e o desapontado com o resultado da pesquisa do Datafolha. Acreditava que a adoção de uma atitude mais agressiva, como a do debate, lhe renderia frutos imediatos. O pior é que a sondagem do Ibope que foi divulgada ontem, no "Jornal Nacional", endossou aquela que saiu na quarta-feira: que o ex-governador está atrás de Lula entre 12 e 14 pontos percentuais.
Naturalmente que tais números não são definitivos. Até dia 29 ainda tem muita coisa para acontecer, sobretudo com o horário eleitoral gratuito. Nos programas foram inseridas cenas do debate na Bandeirantes, principalmente aquelas que ou pegaram o presidente desprevenido ou o apresentaram nervoso. A idéia é mostrar que Lula é um fraco e esperar que, já na próxima semana, as pesquisas indiquem alguma movimentação nos votos.
Alckmin aposta tudo na elevação do tom das críticas ao presidente. Acha que o "Lulinha paz e amor" não resiste se confrontado com a verdade, de forma dura. Sabe que o presidente é bom falando sozinho, sem interlocutores, sem ninguém que o rebata. Já havia mostrado esse mesmo desconforto na entrevista que concedeu ao "Jornal Nacional". Foi catastrófico, para dizer o mínimo. Mas nada garante que tal estratégia funcionará.
Se de certo, ótimo, sinal de que a campanha de Alckmin enveredou por um caminho correto. Se der errado é que são elas. Lula mantendo a distância ou aumentando-a, ficará constatado que o capital político do presidente é muito grande. Tem passado incólume pelos diversos escândalos dizendo sempre que não sabia, atestando publicamente uma ignorância dos fatos ao seu redor que chega a ser irritante. Foi para o segundo turno porque o "dossiêgate" explodiu uma semana antes da eleição. Alckmin, neste caso, não teve mérito algum.
Isto, inclusive, faz projetar outra preocupação para a oposição: se nada cola no presidente, como desbanca-lo depois de eleito? São grandes os indícios de que o festival de corrupção que enxovalhou o Palácio do Planalto tinha o selo da República. Mas evidência não é prova. Como há setores do governo que vêm defendendo desde já que PFL e PSDB não vão sossegar enquanto não removerem Lula do poder via golpe de estado, desde agora se forma um cordão para evitar que a oposição consiga galvanizar a opinião pública.
É bem verdade que tucanos e pefelistas, ainda que por interesses partidários, querem a aplicação da lei em relação a Lula. Mas esta pressão está sendo refutada como uma tentativa de ganhar a Presidência através de uma prática que ainda é relativamente comum na América Latina. O candidato de esquerda no México, Lopez Obrador, se disse vítima de um golpe e conclamou a população a dar-lhe posse, não ao presidente eleito. Agora mesmo no Rio vive-se a polêmica de que "torpedos" teriam sido lançados para atrapalhar a vitória de Jandira Feghali para o Senado. Ela chegou a pedir recontagem dos votos contra Francisco Dornelles.
Nada disso, porém, deu certo até agora. Por isso é que, para todos os efeitos, o governo já se previne contando uma historinha que lhe é muito cara. Vão tentar o golpe contra Lula - anunciam. Representa dizer que se o presidente for reeleito, até mesmo a estratégia do impeachment vai ter de ser repensada pelo PFL e pelo PSDB.


Editado por Giulio Sanmartini   às   10/13/2006 01:49:00 AM      |