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PRESIDENTE DO PT CONTRADIZ LULA SOBRA CORTES
Na Tribuna da Imprensa
BRASÍLIA - Apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato da Coligação A Força do Povo (PT-PRB-PC do B) à reeleição, ter dito que não será preciso fazer cortes no Orçamento da União para que o País cresça, o presidente nacional do PT e coordenador-geral da campanha, Marco Aurélio Garcia, afirmou ontem que ocorrerão. "É evidente que nós vamos ter corte de gastos, mas será gradual", afirmou.
Garcia não quis informar como serão feitos, mas apontou para a possível saída. Ele disse que, nos anos anteriores, os funcionários públicos federais tiveram reajuste de salário maior por causa das carreiras; agora, os aumentos apenas recomporão a inflação.
A declaração de Garcia encerra uma semana marcada pelo debate em torno de cortes orçamentários. Primeiro, foi o economista Yoshiaki Nakano, da equipe do candidato a presidente Geraldo Alckmin (PSDB), da Coligação Por um Brasil Decente (PSDB-PFL), que falou numa economia de R$ 60 bilhões - em seguida, foi desautorizado pelo tucano.
A aposta é que o investimento feito agora no salário dos funcionários públicos permitirá que o governo passe algum tempo sem ter de repor perdas. "Fizemos alguns reajustes importantes no que diz respeito aos salários, o que vai nos dar uma situação mais equilibrada no que diz respeito aos reajustes futuros", afirmou o presidente nacional do PT. "Não precisaremos dar os pinotes que foram necessários para, entre outras coisas, atender à necessidade do nosso funcionalismo público, sobretudo para recuperar suas perdas durante os oito anos do governo deles (tucanos)."
Em junho, Lula assinou sete medidas provisórias (MPs) com elevações salariais para os funcionários federais e do Distrito Federal, incluindo a reestruturação das carreiras de mais de 30 categorias - atingindo um contingente de 1,7 milhão de servidores dentro de um universo de 2 milhões de ativos e inativos, civis e militares. No total, quando todos os acréscimos estiverem em prática, a folha terá crescido em R$ 10 bilhões.
Conjugado com reajustes menores, Garcia afirmou que, num possível próximo mandato, haverá cortes de gastos - apesar de a proposta de Orçamento para 2007 ser ainda 9% maior do que a deste ano e contar que a economia brasileira crescerá 4,75%, acima de todas as perspectivas do mercado.
No entanto, o presidente nacional petista não soube dizer onde serão feitos esses cortes, que não aparecem como parte da política econômica para o possível segundo mandato estabelecida no programa de governo do presidente. A receita, segundo Garcia, é ter a queda da taxa de juros, que se aceleraria no segundo mandato, conjugada com o crescimento econômico - que ele calcula em 5% ou mais -, o que traria crescimento da arrecadação.
Bolsa Família
O presidente do PT voltou a criticar as declarações de Nakano. "Ele falou alto o que eles têm falado baixo", afirmou. "É fácil dizer que não vai acabar com o programa, mas, por exemplo, o corte que Nakano propõe, de R$ 60 bilhões, equivale a três anos do Bolsa Família."
Garcia voltou a repetir as acusações de que Alckmin privatizará empresas públicas. O presidente petista afirmou que há "indícios" de que ele "faria uma inflexão econômica que traria efeitos perniciosos".
Garcia disse que, durante o mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, houve uma "tentação muito grande" de privatizar os bancos oficiais e a Petrobras. "Essa era a atmosfera dominante."
O coordenador-geral da campanha de Lula classificou de "pergunta malandra" o questionamento de Fernando Henrique sobre as privatizações. De Lisboa, o ex-presidente perguntou por que o atual presidente não reestatizou a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), uma vez que foi contra a venda da empresa.
"É uma pergunta malandra. Não é o caso de rediscutir a privatização. O mal está feito. O mal não é, exclusivamente, ter sido privatizada. O mal está também na forma e nos resultados obscuros", disse.
Garcia argumentou que a revisão de desestatizações é um processo complexo, que teria impacto muito forte na economia brasileira. Assim, a administração federal não poderia tomar essa iniciativa.


Editado por Giulio Sanmartini   às   10/14/2006 01:38:00 AM      |