Por Fabio Grecchi na Tribuna da Imprensa A Dinamarca tem uma história de enorme tolerância e liberdade de expressão. Dois exemplos são claros disto: 1) no final da década de 60, dois irmãos massificaram a pornografia, num movimento que se espalhou pela Europa e depois ficou conhecido como Pornô 70. Até hoje a editora Color Clímax é conhecida entre os adeptos do gênero como a precursora de uma indústria que fatura bilhões anualmente, em todo o mundo; 2) do meio para o final da II Guerra, a política de extradição dos judeus fracassou entre os dinamarqueses, então sob jugo nazista. Cidadãos, governo e rei formaram uma frente e impediram as tropas de Adolf Eichmann de desencadear, em outubro de 1943, a deportação de todos os judeus dinamarqueses para campos de concentração na Alemanha. Pobres 481 foram aprisionados e levados para Theresienstadt, mas 7.300 foram salvos, fazendo a travessia por mar até a Suécia.
Mas algumas publicações do país vêm desafiando perigosamente o niilismo fascistóide islâmico com ilustrações do profeta Maomé em situações de banditismo. A mais recente o coloca como pedófilo, depois de já tê-lo posto como terrorista e como a encarnação do demônio. Tanto desperta a ira de milhares de ignorantes seguidores, adeptos da destruição e da negação do Ocidente, quanto agride aqueles que vivem o Corão em sua plenitude de tolerância, respeito ao próximo e amor ao semelhante. Gente que lastima qualquer espécie de agressão ou violência, que prega a convivência pacífica como única maneira de evolução da Humanidade. A atitude faz pensar na medida em que o radicalismo religioso trouxe mais desgraças do que soluções. Apenas de dois anos para cá os católicos do IRA baixaram armas e via Sinn Fein, braço político do Exército Republicano Irlandês, negociam a autonomia do país, com a saída das tropas britânicas. Os defensores da luta armada estão hoje marginalizados, assim como o reverendo Ian Paisley, que na década de 70 galvanizava o ódio dos "orangistas" - protestantes - contra os católicos, atiçando ainda mais o confronto. Também preocupa a determinação do papa Bento XVI em voltar a ministrar as missas públicas em latim, prática abolida em 1965 por João XXIII, conhecido como reformador da Igreja Católica Apostólica Romana. Depois do confronto político de Paulo VI e João Paulo II para tornar proscrita a ortodoxia do arcebispo Marcel Lefebvre, a decisão do sumo-pontífice soa como o recuo de um Vaticano que se propôs a seguir a marcha da evolução do homem de maneira mais aberta, porém sem abrir mão dos dogmas históricos que fazem parte da discussão e da formação das religiões seculares. Aqui neste mesmo espaço, há dois dias tratei do erro do ministro Tarso Genro em trazer a discussão da religião como tema da campanha política. Critiquei a insinuação que fizera de que se Geraldo Alckmin vencer a corrida presidencial o País estará sujeito à Opus Dei, uma das mais fechadas ordens da Igreja. Nunca, jamais, em tempo algum o Brasil aceitaria a ditadura do radicalismo religioso. Sobretudo porque o tucano sequer tocou no fato de que o vice-presidente José Alencar, segundo na chapa de Lula, é de um partido (o PRB) que é o braço político da Igreja Universal do Reino de Deus. Tampouco lembrou que uma das cardeais do PT no Rio, a ex-governadora Benedita da Silva, segue o protestantismo. O aguçamento das discussões religiosas, que antes de mais nada deveriam ser feitas com a razão, assumem um vezo de paixão que somente a política é capaz de dar. No governo Bush se tem visto isto, com a direita religiosa de Pat Buchanan ou Jimmy Falwell interferindo até mesmo na teoria darwinista de evolução do homem. Não descendemos do macaco, como constatou o grande cientista, mas de uma gota de orvalho divina e inexplicável. Sem contar o aspecto de nova cruzada que as intervenções militares norte-americanas têm tomado, cuja reação tem sido o ódio à cultura ocidental. Nas palavras do reverendo vitoriano Charles Caleb Colton, "os homens se altercam pela religião; escrevem por ela; lutam por ela; morrem por ela; fazem tudo, menos viver por ela". Ou, quando se envolve na política, já dizia Mariano José Pereira da Fonseca, o marquês de Maricá: "Uma religião de Estado ou dominante é essencialmente intolerante".
Editado por Giulio Sanmartini às 10/14/2006 01:36:00 AM |
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