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O SUSTO NÃO PASSOU
Editorial em O Estado de São Paulo
Os percalços da candidatura Alckmin na primeira semana da campanha do segundo turno - o constrangedor apoio do casal Garotinho e o conflito entre tucanos e pefelistas na Bahia sobre a conduta a adotar em relação ao futuro governo estadual do petista Jaques Wagner - remeteram a segundo plano no noticiário as expressões de um dado político muito mais importante. Trata-se dos efeitos, nas hostes lulistas, do susto do primeiro turno que não só não passou ainda, como dá mostras de virar pânico. Uma amarga descoberta passou a assombrar o apparat do candidato e ele próprio: a de que os resultados do último domingo puseram em xeque a crença na invencibilidade de Lula, que era a sua maior força.
De outro modo não se explicariam nem o terrorismo eleitoral desencadeado, sem um pingo de pudor, pelo esquema petista de poder, nem a sofreguidão de Lula e do seu xingador oficial, Ciro Gomes, o oligarca de Sobral, entre outros, para neutralizar a força estadual do governador tucano Aécio Neves, nem tampouco o açodamento para tirar do caminho das urnas, por quaisquer meios, o escândalo do dossiê, que impediu Lula de 'matar' a eleição de uma tacada só. Por isso, ele está exigindo agora a cabeça de Berzoini para poder exibi-la numa bandeja - qual nova Salomé - como prova de seu amor pela ética, no debate com Alckmin, no domingo. Além disso, o presidente, no Rio, e a nova chefe de sua tropa de choque, em São Paulo, a ex-prefeita Marta Suplicy, partiram sem recato para a mentira pura e simples para semear entre os eleitores o medo de uma vitória do tucano. A sincronia de suas manifestações deixa evidente a jogada ensaiada.
Ao sacramentar a adesão do PT à candidatura do peemedebista Sérgio Cabral ao governo fluminense, Lula acusou o adversário de querer demitir servidores e cortar salários. 'É isso que significa cortar despesas com gasto corrente', declarou, numa alusão a uma promessa de Alckmin de reduzir o custo do governo, que as 'bondades eleitorais' de Lula fizeram disparar. De seu lado, Marta passou seu primeiro dia de campanha gritando que Alckmin vai acabar com o Bolsa-Família, se for eleito.
O pior, de todo modo, não são nem as previsíveis caneladas do petismo.
No que se refere a seu programa econômico, Lula e os seus dizem uma coisa nos palanques e o contrário em encontros reservados. Nestes, também eles falam em cortar gastos, manter a austeridade fiscal e tomar medidas impopulares no segundo mandato. Já em público, negam que, num segundo governo, Lula irá continuar o que o primeiro teve de melhor - a política econômica descontaminada de tentações populistas. De qualquer forma, o presidente e a ex-prefeita exalam paz e amor perto da incontinência verbal do oligarca de Sobral. Temendo que Aécio Neves consiga reduzir a vantagem que Lula teve em Minas, Ciro Gomes foi de um só fôlego sicofanta e grotescamente ridículo.
Sicofanta, ao dizer que 'quem defende Aécio em Minas deve defender Lula'. Ridículo, ao dizer que 'São Paulo quer destruir Minas e o Rio Grande do Sul para reinar' e que 'a tragédia brasileira é a classe dominante de São Paulo'. Mas não pára aí. O ódio hidrofóbico do deputado por São Paulo levou-o a afirmar, ainda, que o PT e o PSDB em São Paulo são 'fruto de uma sociologia que não é brasileira'. Ou seja, São Paulo não é Brasil. Só que Lula não teria tido a trajetória que teve e não teria chegado onde chegou se São Paulo fosse 'da mesma sociologia' do Ceará.
Desesperadamente necessitado de mais votos dos paulistas, Lula age em duas frentes. Numa, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, anuncia que só depois do segundo turno se chegará ao resultado das investigações sobre a origem da bolada de R$ 1,7 milhão com que os petistas iam comprar o falso bilhete premiado. Não é de excluir que o medo que ameaça virar pânico nas hostes petistas decorra de conhecerem os seus hierarcas - a começar do próprio Lula - as conclusões impublicáveis da apuração. Por isso, decidiu-se tirar o paulista Ricardo Berzoini do comando do PT, depois de afastado da chefia da campanha reeleitoral. Foram subordinados dele, em parceria com o assessor do senador Aloizio Mercadante, os 'aloprados' do dossiê.
Por tudo isso, é quase certo que se chegará ao turno final falando de corrupção, sem um debate efetivo sobre políticas de governo.


Editado por Giulio Sanmartini   às   10/07/2006 05:22:00 AM      |