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DOSSIÊ, PESQUISAS E ORÁCULOS
Por Ana Maria Tahan no Jornal do Brasil
Vale a pena insistir: a investigação em torno do dossiê da máfia dos sanguessugas dará o tom do segundo turno da campanha eleitoral entre Lula e Geraldo Alckmin. E cobrar: quando a Polícia Federal vai revelar o nome do financiador da operação? Até quando o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, vai manter o sigilo para ajudar seu chefe, o presidente-candidato? Informações que rompem a barreira do silêncio imposta pelo criminalista de plantão no governo dão conta de que a procura por um bode expiatório se concentra, hoje, em duas vertentes. Uma empresa do Rio pode ser instada a assumir a propriedade do dinheiro. A outra aponta para o ex-governador e candidato derrotado ao governo paulista Orestes Quércia. Faz sentido. Ele tem recursos e interesse. E se responsabilizaria oficialmente pela "doação" para assegurar a seu PMDB uma fatia significativa de poder numa eventual segunda edição de Lula no Planalto.
Enquanto se aguarda a confirmação (ou não) das informações, vale a pena debater um tema paralelo e igualmente importante nessa nova rodada de votos. Ao contrário do que se pensa, pesquisa em temporada de eleições não é retrato de momento, nem oráculo. É retrato do passado. Os dados não merecem desprezo, mas são relativos, ensina o prefeito do Rio, Cesar Maia, um especialista em análise de curvas e sintonias de estatísticas.
O prefeito tem lá sua razão. Os meios de comunicação costumam divulgar os índices de preferência do eleitor como se fossem decretos. Definitivos. Precisos. Não o são. A leitura está nos detalhes e, especialmente, na metodologia de apuração. São essas as informações que devem pesar para se entender os números do Datafolha divulgado ontem pela TV Globo, o primeiro levantamento deste segundo turno entre Lula e Geraldo Alckmin.
Menos do que saber o percentual de um e outro e a projeção, vale observar o sobe-e-desce da preferência por Estados, regiões, idades. Se Alckmin evoluir no Sul-Sudeste em relação aos votos registrados no primeiro turno, e Lula ganhar alguns a mais no Nordeste, o quadro estará mais favorável ao tucano. São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, só para citar quatro Estados, somam mais votos do que todo o Nordeste reunido. Se Lula, ao contrário, avançar nestes Estados e Alckmin ganhar alguns lá para cima do mapa do Brasil, então o petista pode sorrir. Terá andado um bom caminho para a reeleição.
Descobrir onde os dados foram levantados é essencial. Cesar Maia observa que o Ibope e o Datafolha optam por lugares de passagem concentrada de pessoas para as entrevistas. Tipo Viaduto do Chá, em São Paulo, e Avenida Rio Branco, no Rio. Os resultados ficam distorcidos, alerta. Os moradores da Baixada podem dizer que residem em Copacabana, os da Zona Leste paulistana, que vivem na Zona Sul. Para evitar isso, o instituto que o PFL contrata para acompanhar o humor dos brasileiros com os políticos sai às ruas sempre nos fins de semana. E fala com os eleitores em suas casas. "Captam com mais precisão a tendência", observa Cesar.
Metodologia à parte, é mais do que certo que os institutos terão de repensar seu futuro. Eleitores andam desconfiados de tudo. E céticos em relação a linhas retas para cima e para baixo, sem que surjam curvas nos gráficos. O petista Jacques Wagner deu um banho no governador Paulo Souto e anunciou o outono político de Antonio Carlos Magalhães. Os institutos souberam depois da contagem oficial dos votos. Roseana Sarney estava eleita no Maranhão. Agora procura fôlego para superar o adversário Jackson Lago.
Pesquisa é para quem sabe ler. Não para leigo. Ou crente.


Editado por Giulio Sanmartini   às   10/07/2006 12:48:00 AM      |