Por Pedro do Coutto na Tribuna da Imprensa A presença da ex-governadora Benedita da Silva no Palácio Alvorada, quando há poucos dias Lula e Sérgio Cabral Filho firmaram um acordo recíproco de apoio para o segundo turno das eleições, na verdade não acrescenta, mas retira votos de ambos. Foi um erro político do presidente da República incluir a desastrada ex-ministra da Assistência Social na sua equipe pensante, não bastassem Ricardo Berzoini, Freud Godoy, Jorge Lorenzetti, Delúbio Soares, Marcos Valério, Duda Mendonça, Sílvio Pereira, Expedito Veloso e, finalmente, o falso aliado Aloísio Mercadante. Votos? Benedita da Silva não possui. Sua imagem tornou-se péssima. No governo do Rio de Janeiro, não pagou o décimo-terceiro salário a 450 mil funcionários, aposentados e pensionistas do Estado. No Ministério da Assistência Social, acabou demitida pelo próprio Luís Inácio da Silva em função do episódio que culminou com o pagamento, com recursos públicos, de suas diárias particulares no Hotel Alvear, o mais luxuoso de Buenos Aires.
Por tudo isso, a participação da ex-governadora, que sequer obteve a legenda do PT para disputar o Senado, na atual campanha é negativa. Pesa contra. Lula errou novamente em matéria de escalar pessoas. O chefe do Executivo - vale lembrar - nomeou José Dirceu para primeiro-ministro, Ricardo Berzoini para a Previdência, Antônio Palocci para a Fazenda. Teve que demitir todos eles. Saber escalar a equipe que fica a poucos degraus do poder é uma arte. Transferir votos também. É muito difícil. Poucos conseguiram ao longo dos últimos sessenta e um anos: Vargas para Eurico Dutra em 45; Ademar de Barros para Lucas Garcez em 50, governo de São Paulo; Ernani do Amaral Peixoto para Miguel Couto Filho em 54, governo do antigo RJ; Jânio Quadros para Carvalho Pinto em 58; Carlos Lacerda para Lopo Coelho em 62 e para Flexa Ribeiro em 65; Leonel Brizola em 85 para Saturnino Braga e nas eleições de 88 para o prefeito Marcello Alencar, antes de sua estrela apagar. Nem todos estes casos são de vitória. Lacerda perdeu com Lopo Coelho e com Flexa Ribeiro. Mas passou todos os votos que comandava. Transferir votos é tarefa tão difícil que o próprio Getulio Vargas, depois de eleger Dutra e eleger a si próprio senador por dois estados e deputado por cinco, como a legislação da época permitia, apoiou Hugo Borghi em 47 para o governo paulista e perdeu para Ademar. Juscelino Kubitschek, em 60, apoiou Tancredo Neves contra Magalhães Pinto e também foi derrotado. Os exemplos falam por si. Estou falando de pesos-pesados. Por isso, não acredito que Marcelo Crivela e Vladimir Palmeira possam transferir votos em escala decisiva em favor de Sérgio Cabral contra Denise Frossard. Não creio porque no debate da TV Globo atacaram duramente o senador do PMDB, acusando-o de representar Anthony Garotinho, o que no modo de ver de ambos o desqualificava para o Palácio Guanabara. Agora, fica difícil convencer eleitores e eleitoras do contrário. A mudança não pode estar marcada pela sinceridade. Inclusive vale acentuar que Sérgio Cabral, que apoiou Lula, até segunda ordem, continua o mesmo candidato de Garotinho e Rosinha Mateus. Aliás, o papel que o presidente Luís Inácio da Silva reservou para Vladimir e Crivela é difícil de interpretar. Pelo menos, Vladimir Palmeira ficará contrafeito junto a si mesmo, apanhado pela forte contradição que o está enredando. Como verá sua própria imagem no espelho do tempo? Marcelo Crivela, no entanto, irá em frente com naturalidade. Não possui força pessoal alguma. Forte é a organização aparente da Igreja Universal do Reino de Deus. A dúvida é se o senador do PRB conseguirá liderar os que lhe são fiéis, levando-os às urnas de 29 de outubro com os nomes de Lula e Cabral. Até onde irá a influência do bispo-parlamentar sobre ma legião de eleitores, mesclando fé religiosa com vinculação política? Não se sabe, hoje, se está tudo bem entre Cristo e César, mas todos sabem a respeito das dificuldades desta travessia de Damasco, versão 2006. No passado, mais de vinte anos depois da morte de Jesus Cristo, antes de converter a si mesmo e os romanos, Paulo, então perseguidor de cristãos, teve a visão que narrou em seus relatos. Na estrada para o segundo turno, qual será a visão do eleitorado carioca e fluminense relativamente ao apoio duplo entre o presidente da República e o senador do PMDB? Evidentemente, Lula, que luta pela reeleição, tem mais interesse em receber votos de Sérgio do que passar os que possui a Cabral. É lógico. Sérgio parte em busca de espaço na reta final, Luís Inácio da Silva empenha-se em manter o que conquistou. Por 1,4 por cento dos sufrágios, Lula não venceu no primeiro turno. Sérgio Cabral precisa de muito mais. A fração de 1,4 é pequena? Sim. Mas se por 1 por cento se vence, por 1 por cento também se perde. A indefinição se mantém.
Editado por Giulio Sanmartini às 10/11/2006 01:36:00 AM |
|