Por Janer Cristaldo em Mídia sem Máscara Sexta-feira passada, eu escrevia em meu blog: Leio no noticiário que o presidente do PT, Ricardo Berzoini, anunciou nesta sexta-feira seu afastamento da presidência do partido. O anúncio foi feito por ele, assim que terminou a reunião da Executiva Nacional do PT. O motivo da renúncia, obviamente, foi a affaire do dossiê. Ué? Mas o caso do dossiê não era coisa do PT paulista, como afirmava Tarso Genro, o Explicador-Geral da República? A cada vez que os petistas tentam explicar o inexplicável, enredam-se cada vez mais. A grande pergunta é de onde surgiu o 1,7 milhão apreendido e destinado à paga do dossiê. Até o Supremo Apedeuta diz querer ver o caso esclarecido. Diz querer ver. Pois se quisesse realmente saber, bastaria uma atitude singela: perguntar aos petistas envolvidos de onde surgiu tanta grana. Domingo, temos debate entre Lula e Alckmin. Fosse eu Alckmin, esta seria a primeira questão que proporia a Lula. Se não propuser, terá sido por covardia ante o poder. Alckmin não se acovardou. Propôs a pergunta e a propôs em primeiro lugar. Daí para frente, foi uma pancadaria só, que mal dava ao adversário tempo de respirar. O chamado Picolé de Chuchu, sempre com ar de aluno primeiro da classe, revelou-se um pugilista contundente e implacável. E foi desfilando diante de um Lula atônito, semiparalisado pelo estupor, todo o rol de patranhas do PT, mensalão, valerioduto, envolvimento do banco BMG. Verdade que faltaram muitas: o assassinato de Celso Daniel, do Toninho do PT, o favorecimento do Primeiro-Filho com 15 milhões de reais da Telemar e por aí vai.
Golpeado e sempre se atrapalhando com as palavras, Lula respondeu que quer saber, mais do que ninguém, “quem arquitetou esse plano maquiavélico”, quer saber o conteúdo do dossiê e a origem do dinheiro. Ora, por maquiavélico se entende algo bem arquitetado, e não o um desastre montado por três ou quatro patetas. Lula está escandalizado porque o “plano maquiavélico” falhou. Não falhasse, estaria gozando os frutos da tramóia. Quanto ao conteúdo, está amplamente divulgado na Internet. Quanto à origem do dinheiro, que é o que agora realmente importa, nada impede que o presidente pergunte a seu banqueiro-churrasqueiro: “cá entre nós, companheiro, a picanha está no ponto. Mas de onde veio mesmo aquela grana toda?” Tentando defender-se canhestramente, Lula disse não ser policial, mas presidente da República e garantiu que a Polícia Federal irá descobrir a origem do dinheiro. "Uma investigação séria é demorada", concluiu. Ora, poderia ter recorrido aos préstimos de seu ex-ministro Antonio Palocci, que em 24 horas descobriu a colossal fortuna amealhada por um humilde caseiro nordestino. 25 mil reais se descobre na hora. 1,75 milhão, com um pacote de dólares no meio, é bem mais demorado. “Não minta, Lula!” – disse Alckmin. Estou entrando nos 60 anos e pela primeira vez em minha vida tive o prazer de ver um opositor dizer isso a um presidente da República. Lula mentiu desde sempre, desde os dias de sindicalista até hoje. Mentiu quando vociferava contra o FMI. Hoje paga até mesmo o que nem é cobrado. Mentiu quando vociferava contras as medidas provisórias e hoje tornou-se campeão na emissão de medidas provisórias. Mentiu quando dizia defender o funcionalismo público. Mal subiu ao poder, enfiou a mão no bolso dos aposentados. Mentiu desde sempre porque está envolto em uma mentira maior, o Partido dos Trabalhadores, onde trabalhadores mesmo é o que mais falta. O PT é um partido organizado por intelectuais saudosos do bolchevismo. Precisavam de um operário como ícone e apanharam o que estava mais à mão, o mais dócil, o mais manipulável. Ocorre que o operário mais à mão estava cansado de ser operário e quando foi eleito já vivia por duas décadas escorado no mecenato de um empresário. O PT pretende que um operário chegou ao poder em 2003. Nada disso. Chegou ao poder um desocupado. Em entrevistas televisivas, sempre vi os jornalistas engolindo as mentiras esfarrapadas de Lula, como se algum código deontológico determinasse que um jornalista tem de aceitar passivamente as potocas que um entrevistado lhe conta. Pela primeira vez em minha vida, tive a chance de ver e ouvir de um candidato aquilo que há muito deveria ter sido dito. “Não minta, Lula!” Lula recebeu a reprimenda como um menino envergonhado de suas artes. O problema é que não são artes, mas crimes. Recorrendo a suas metáforas toscas, disse o Supremo Apedeuta: "Nem um presidente, nem um pai de família tem como saber de tudo. Quantas vezes, você está na cozinha, acontece algo na sala, e você não fica sabendo". Sem falar que um pai de família precisa ser ceguinho de carteira para não saber o que acontece na sala, não se pode admitir que um presidente da República, que dispõe de serviços de informação muito bem equipados, não saiba o que acontece em seu partido ou nas salas contíguas à sua. “Se os companheiros erraram, têm de pagar”, disse o Supremo. Sempre evitando cuidadosamente a palavra crime. Como fazia Josiph Vissarionovitch Djugatchivili após seus massacres. “Nós erramos”, dizia Stalin. Um erro se corrige com uma admoestação, um pedido de desculpas. Crime é mais grave. Os petistas têm cometido crimes em sua tentativa desesperada de manutenção do poder e contam com um capo complacente, sempre o primeiro a definir crimes como erros. O PT está intuindo as futuras conseqüências de seus crimes. No dia 02 deste mês, antes mesmo do debate, um dos cães de guarda do regime, Ciro Gomes, ameaçava com guerra civil: "Se a população brasileira mais pobre sentir que, mesmo por dentro das instituições, uma prática golpista tirou a possibilidade de Lula se eleger, eu temo realmente pelo dia seguinte que o Brasil vai viver". Ou seja, a oposição pode disputar uma eleição. Desde que não a ganhe. Se ganhar, é golpe. Os aprendizes de tirano aprendem rápido suas lições de casa e pensam mais longe que o próprio chefe. Nesta segunda-feira, na Folha de São Paulo, Ciro volta a dizer que teme pelo que pode ocorrer caso Lula perca estas eleições devido às acusações de corrupção. “Imagine se esse povão achar que tomaram a eleição do Lula por manipulação de um escândalo pela televisão?” Ocorre que o escândalo não foi produzido por nenhum opositor e sim pelo próprio PT. Desconfortáveis com a idéia de ter dado um tiro – um canhonaço, eu diria – no próprio pé, os áulicos de Brasília pretendem que tenha sido a oposição quem puxou o gatilho. O PT está cheio de cadáveres no armário e não encontra um jeitinho plausível de trazê-los à luz do dia. O debate de domingo deu novo alento ao eleitorado que está farto de um governo atolado até o pescoço em corrupção e que pode ser reeleito graças à corrupção miúda que promove entre os mais pobres. Fosse eu Alckmin, no próximo debate começaria com uma primeira pergunta: como é que é, presidente, ainda não conseguiu descobrir a origem daquele 1,7 milhão? Somos todos ouvidos.
Editado por Giulio Sanmartini às 10/11/2006 01:30:00 AM |
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