Na Tribuna da Imprensa BRASÍLIA - Motivo de polêmica no debate entre os candidatos à Presidência da República, o processo de privatização promovido entre 1995 e 2002, no governo Fernando Henrique Cardoso, rendeu US$ 93,4 bilhões (R$ 200,8 bilhões em valores atuais) aos cofres públicos, principalmente federais. Ao todo, mais de 84 empresas estatais foram vendidas e diversos serviços públicos foram concedidos à exploração do setor privado. Na lista de empresas privatizadas, encontramos desde um terminal de garagem com 3.740 vagas para automóveis, no centro do Rio, vendido em 1998 por US$ 67 milhões, até uma das maiores empresas produtoras e exportadoras de ferro do mundo, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). A mineradora foi leiloada por US$ 3,3 bilhões em 1997, quando passava por dificuldades financeiras, e hoje é um dos principais cases de sucesso no mundo dos negócios.
Segundo os críticos da privatização, a empresa teria muito mais valor hoje, como estatal lucrativa, do que rendeu aos cofres públicos ao ser vendida. Os defensores da desestatização argumentam, por outro lado, que ela só passou a dar lucros porque passou para as mãos do setor privado, que seria mais eficiente na gestão de uma empresa desse tipo. Na prática, os novos donos também se beneficiaram da valorização do preço internacional do aço. Na época em que as privatizações se iniciaram, em 1995, a dívida líquida do setor público representava R$ 153 bilhões. Na época, a receita esperada das privatizações era pelo menos metade disso. No final de 1998, entretanto, quando a maior parte das estatais já tinha sido vendida, o endividamento já chegava a R$ 385 bilhões. Ou seja, os juros elevados praticados no início do Plano Real, para conter a inflação, neutralizaram todo o efeito positivo das privatizações para a redução da dívida pública. Os defensores da privatização alegam que, sem a venda das estatais, a situação do endividamento brasileiro poderia ter sido ainda mais grave. Com a crise de janeiro de 1999 e a desvalorização do real, a dívida pública pulou para R$ 516 bilhões - 49,4% do Produto Interno Bruto (PIB). Em áreas como as telecomunicações, as privatizações revolucionaram a qualidade dos serviços e a vida dos brasileiros. Antes das privatizações, telefone era um bem de consumo de classe média. Atualmente, 95 milhões de pessoas no Brasil possuem uma linha de celular, além de quase 40 milhões de telefones fixos espalhados pelo território. O setor de telecomunicações e energia também foi modernizado pela criação de um amplo sistema de regulação, mas os críticos consideram o modelo brasileiro menos eficiente do que o inglês e o escandinavo, onde a sociedade se faz representar mais fortemente com o objetivo de contrapor os interesses dos consumidores aos empresariais.
Editado por Giulio Sanmartini às 10/11/2006 01:33:00 AM |
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