Por Adriana Vandoni
Hoje continuo a seqüência de textos prometida há dois artigos, quando tentei escrever de forma simples e compreensível sobre os tropeços do governo Lula. Naquele escrevi sobre a condução da política energética. Foi um desastre, mas o assunto deste artigo é outro. No último debate entre os candidatos à presidência da República (e o primeiro que Lula dá o ar da graça, e que graça!) a ética foi tratada com destaque. Vamos tentar analisar a relação entre a nossa sociedade e a tal da ética. Alguns pseudoconhecedores de antropologia dizem que “o brasileiro é assim mesmo. Que roubar é normal. Todos roubam quando chegam ao poder”. Eu pergunto ao leitor: Você roubaria se chegasse ao poder? Você desviaria dinheiro da saúde, das escolas, ou mesmo da construção de estradas, que, por serem de pior qualidade causam a morte de milhares de pessoas todos os anos, sem contar os prejuízos econômicos? Claro que deve ter aquele que responde sim.
Mas será que somos todos bandidos? Será que deveríamos transformar nosso país em um imenso presídio, bonito pela própria natureza, onde seremos dignos apenas de suspeita? Não leitores, não somos isso tudo. Não somos seres rasos, não somos uma “raça” inferior à do primeiro mundo ou das nações que, mesmo mais pobres que a nossa, cultivam princípios morais e éticos, acima de tudo. Recentemente, no auge da crise do mensalão, o presidente, que deveria zelar pelo cumprimento das regras que norteiam nossa sociedade, disse que “somos todos iguais”, transferindo para a sociedade a crença de que somos mesmo assim. Traduzindo para uma forma chula ou lula, seria como dizer “companheiros, relaxem e gozem, somos todos bandidos”, complementando o que disse seu Ministro do Crime, Marcio Thomaz Bastos ao considerar bandido aquele que usa caixa 2. Na verdade a ética passou a ser um valor que não se mede mais pelas condutas do indivíduo, mas pelo partido ao qual é filiado ou ao qual serve. Por exemplo: É ético roubar, desde que seja para manter o presidente onde ele está; é ético traficar dossiês fajutos, desde que ele sirva ao PT; é ético usar dinheiro ilícito para comprar dossiê ilícito, desde que seja para o benefício do PT; é ético dificultar as investigações de assassinatos se elas atrapalharem a reeleição do presidente companheiro, como quando o governo dificultou nos casos Celso Daniel e Toninho do PT de Campinas. Logo se vê que os conceitos estão distorcidos. Desde o mensalão, deputados e senadores foram parar no Conselho de Ética por terem seus assessores envolvidos com dinheiro ilícito. Mesmo que não tenha surtido muito efeito, isso aconteceu. Agora o que me dizem de um coordenador de campanha envolvido com atos criminosos? Por isso é imprescindível que o Senado Federal tome uma postura firme e implacável contra o senador Aloizio Mercadante que teve como coordenador da sua campanha o senhor Hamilton Lacerda, flagrado pelas câmeras de um hotel com malas de dinheiro de origem desconhecida, para entregar à gangue do dossiê. Ora, para coordenar uma campanha não se escolhe um desconhecido, é um cargo da mais alta confiança e entrosamento que beira a cumplicidade. Não é óbvio isso? Bem, se até ai todos concordaram, então vamos em frente. O recém-eleito deputado federal pelo PT Ricardo Berzoini, era Presidente Nacional do PT e coordenador da campanha de Lula. Foi afastado ou afastou-se, depois que foi levantada a suspeita, pela Polícia Federal, da sua participação na gangue do dossiê. Se existe a lógica para deputados e senadores e seus assessores e coordenadores, essa lógica deve existir para o presidente e seu coordenador. Se não chegarmos a essa conclusão que fechemos de vez o portão deste imenso presídio em um berço esplendido, e vejamos quem tem o maior estilete.
Editado por Adriana às 10/10/2006 09:36:00 PM |
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