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LULA COLHE O QUE O GOVERNO FHC PLANTOU, DIZ GIANNETTI DA FONSECA
Rolf Kuntz

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se vangloria do que não fez e reivindica méritos que não tem, ao proclamar como façanha de seu governo o crescimento da exportação, segundo o diretor de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca.
O aumento da exportação brasileira a partir de 2003 resulta de ações do governo anterior, do acelerado crescimento mundial e da elevação dos preços, afirma Giannetti, que é também presidente da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) e ex-secretário da Câmara de Comércio Exterior (Camex).
Dois terços do crescimento recente das vendas brasileiras são explicáveis por fatores conjunturais externos: os preços de exportação foram cerca de 40% maiores que os do período 1999-2002 e houve uma expansão geral da procura de commodities, incluído o petróleo pesado exportado pelo Brasil.
De janeiro a agosto deste ano o valor das exportações brasileiras foi 15,6% maior que o de igual período do ano passado, com aumento de 11,7% nos preços e apenas 3,6% na quantidade. No mesmo período, o quantum do comércio mundial foi 8,5% superior ao de um ano antes. Pela primeira vez em seis anos, o volume exportado pelo Brasil aumentou menos que o total mundial. Sem a elevação dos preços, o Brasil estaria perdendo participação no comércio global, observa Giannetti.
Entre 1997 e 2002, crises na Ásia, na Rússia e na América Latina e os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos afetaram o comércio e derrubaram preços de commodities. Em 1999, 2001 e 2002 houve queda nos preços de exportação do Brasil e em todo o período o crescimento das vendas dependeu da variação do volume embarcado. O quadro se inverteu a partir de 2003, quando os preços e a demanda mundial - em grande parte puxada pelo dinamismo chinês - impulsionaram as exportações brasileiras.
Entre 1999 e 2002, continua Giannetti, a base exportadora expandiu-se de 11 mil para 16,5 mil empresas. Chegou a 18 mil em 2005 e agora regrediu ao nível de 2002, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Durante o governo anterior, diz o presidente da Funcex, foram implantadas instituições como a Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex) e a Seguradora Brasileira de Crédito à Exportação (SBCE) e iniciativas como os Encontros Regionais de Comércio Exterior (Encomex), o Exporta Fácil pelos Correios e os arranjos produtivos locais, entre outras. Fortaleceram-se o Proex e o BNDES-Exim, programas de financiamento pré e pós-embarque para empresas exportadoras.
O governo petista, compara Giannetti, pouco fez para enfrentar os problemas que tinha diante de si, como o peso fiscal sobre as exportações e as deficiências de logística. Entre suas poucas realizações inclui-se a continuação do programa Reporto, de reequipamento e modernização portuária, lançado na administração anterior.
O que melhorou sensivelmente nesse período, na avaliação de Giannetti, foi o transporte ferroviário, graças a investimentos privados. Os serviços aduaneiros continuam com poucos funcionários, nem sempre qualificados. Parte desse pessoal está sendo treinada em curso oferecido pela Fiesp. O Siscomex Exporta, serviço do governo, está fora do ar por falta de investimento.
O governo também exagera, segundo Giannetti, sua contribuição para a abertura e diversificação de mercados. “É claro que temos de exportar para todos os mercados relevantes. Isso inclui China, Índia, África do Sul e países da América Latina, mas não podemos negligenciar os pólos mais importantes, como os Estados Unidos, a União Européia e o Japão.”
O País, afirma o diretor da Fiesp, tem perdido oportunidades por falta de acordos com os maiores mercados. “Quanto ao Mercosul, tem sido um desastre. Temos litígios com a Argentina o tempo todo, o Uruguai e o Paraguai estão insatisfeitos, e agora se inclui no bloco a Venezuela, que nas atuais condições não facilitará a superação dos problemas.”
Quanto à diversificação de mercados, não há novidade política. “O presidente Lula acha que descobriu o mundo. Há 30 anos, como empresário exportador, eu trabalhava para abrir mercados na África. Em 1985 o Brasil chegou a ser o maior fornecedor da Nigéria, superando a Europa. O problema foi que o País, a partir daí, ficou sem política de comércio exterior por muito tempo, até o segundo mandato de FHC, quando foi criada a maior parte dos instrumentos de apoio à exportação.”
“Os méritos do governo Lula, nesse campo, são muito pequenos”, segundo Giannetti. Ele reconhece os esforços, principalmente na área de promoção, do ministro do Desenvolvimento, Luiz Furlan. Mas não houve, diz, muito mais que isso.
A polêmica sobre as privatizações, que vem marcando a campanha do segundo turno, dá a dimensão dos equívocos do governo, segundo o diretor da Fiesp. “Em 1987 eu vendia aço à estatal chinesa Minmetals, que tinha exclusividade das compras”, conta Giannetti. “O ministro do Comércio me disse que era preciso mudar e eu deveria vender a outra empresa porque ele queria concorrência. A reforma chinesa, que estava começando, tinha como um de seus lemas uma frase de Deng Xiao Ping: não importa a cor do gato, se matar o rato. O que Lula prega é a volta ao maoísmo.”


Editado por Adriana   às   10/22/2006 09:27:00 AM      |