Por Pedro do Coutto na Tribuna da Imprensa Os resultados das eleições presidenciais deste ano, já consolidados mesmo antes das urnas, garantem a reeleição de Lula por ampla margem de votos e, na realidade, como observa Elena, minha mulher, são praticamente idênticos aos do pleito de 2002. Os jornais de quarta-feira publicaram a mais recente pesquisa do Datafolha apontando 58 para Luís Inácio da Silva e 37 para Geraldo Alckmin. Assim, como também se constata, apenas 5 por cento dos eleitores e eleitoras permanecem indecisos ou dispostos a anular o voto. Uma das menores taxas da história, da redemocratização de 1945 aos dias de hoje. Considerando-se somente os votos válidos, o presidente da República alcança 61 por cento contra 39 pontos do ex-governador de São Paulo. No segundo turno de quatro anos atrás, Lula derrotou José Serra por 62 a 38. O panorama político, quando à essência do confronto entre a posição assumida por Lula e a que sintetiza o PSDB, que não se livrou de FHC, permanece o mesmo, apesar das tempestades - várias - que desabaram sobre o Palácio do Planalto. Os maremotos afundaram o PT, mas preservaram intacta a imagem eleitoral de Luís Inácio da Silva.
Ele possui uma força intrínseca extraordinária, os fatos tornam isso inegável. O presidente da República superou os desastres chamados José Dirceu, Ricardo Berzoini, José Genoíno, Delúbio Soares, Duda Mendonça, Sílvio Pereira, mais recentemente Freud Godoy e Jorge Lorenzetti. Superou o falso aliado Aloísio Mercadante. Resistiu incólume à bomba lançada contra o governo por Roberto Jefferson. O ex-deputado do PTB até, indiretamente, o ajudou a livrar-se dos falsos amigos, que são eternos. Lula segue firmíssimo para o novo mandato que conquistará nas urnas de domingo, depois de amanhã. Faltam apenas 48 horas para receber uma nova e maciça confiança popular. Estas eleições, de outro lado, desapontam muitos daqueles que são apresentados na televisão como cientistas políticos. Previram um número muito grande de votos nulos e brancos. Não vai acontecer isso. Se fosse alto, acentuaria um grau de desinteresse por parte do povo. Ao contrário, o interesse é muito elevado. Os números das pesquisas, inclusive do Ibope, estão aí. Vários cientistas achavam também que a abstenção seria expressiva. Nada disso. É a mais baixa ao longo do tempo. Foi, em média, de 16 por cento no primeiro turno. Na verdade, significa uma taxa pouco maior que zero. Pois temos que levar em conta - como já escrevi - que o último cadastramento foi efetuado em 1986, portanto há duas décadas. E o índice de mortalidade, de acordo com o IBGE, é de 0,6 por cento ao ano. Entretanto, não podemos esquecer as pessoas hospitalizadas em todo o Ppaís e aqueles acometidos de doenças graves, imobilizantes. A abstenção voluntária quase não existiu no primeiro turno e será das mais reduzidas no segundo. Em termos eleitorais, Lula mantém forte sintonia com os grupos sociais de menor renda e possui boa penetração nas classes médias e também nas ricas. Estas não pesam quase nada em matéria de botos. Influem muito, isso sim, nas decisões econômicas nacionais. Desconfiavam de Lula, no passado. Hoje, não duvidam mais. O presidente da República é, aí sua maior vantagem, no fundo um conservador, mas é interpretado como reformista. Esta dualidade é fundamental para o seu destino político. Não apresenta qualquer risco para a riqueza. Não tentou, e difilmente tentará, mudar o perfil da distribuição de renda. É neste ponto que os interesses sociais poderiam se chocar. O não reajuste dos salários, especialmente do funcionalismo público ao nível da inflação, hoje, é a tradução moderna da mais valia marxista do século dezenove. Não haverá mudanças no que se refere à transferência de renda do capital para o trabalho. As cestas básicas do Bolsa Família são uma transferência do capital estatal para a pobreza. Não do capital privado. A participação do trabalho na forma do PIB - como descobriu o economista Claudio Contador em 89 e Antônio Houaiss e eu colocamos no livro "Brasil, O fracasso do conservadorismo" - permanecerá restrita a um terço. A remuneração do capital vai permanecer na escala de dois terços. O nosso Produto Interno Bruto está em torno de 800 bilhões de dólares. Nos Estados Unidos, para um PIB de 12 trilhões de dólares, um terço do que se produz e fatura no mundo, a massa salarial pesa 60 por cento, a remuneração do capital 40 por cento. O funcionalismo público federal, estadual, municipal americano recebe a cada doze meses 1 trilhão e 560 bilhões de dólares. É quanto custa a máquina estatal no país do capitalismo. Os salários nos Estados Unidos impulsionam a economia para o alto. No Brasil, conduzem para baixo, reduzindo o consumo. Esta a diferença essencial. O Produto Interno brasileiro sobe pouco porque os vencimentos perdem para a taxa inflacionária. Sem dúvida, ao que tudo indica, vão continuar perdendo. O conservadorismo conseguiu ocupar o quadro político com bastante intensidade. Triunfou. As urnas de 2006 vão passar com o vento e não mudarão nada. A esperança, pois sem ela não se vive, fica transferida para 2010.
Editado por Giulio Sanmartini às 10/27/2006 02:54:00 AM |
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