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A DECISÃO EM 11 DIAS
Por Villas-Bôas Corrêa em A Voz da Serra
A descarga de emoção injetada na campanha com o primeiro debate para valer, na fórmula perfeita do mano a mano entre os finalistas do segundo turno, promovida pela TV Bandeirantes com impecável organização e competência, iluminou evidências que se escondiam atrás dos tapumes das mistificações.
Já se pode afirmar, sem risco de erro ou de parcialidade, que a eleição não estava nem está decidida pelos índices das pesquisas, como é irrecusável a revisão das fórmulas e esquemas dos adivinhos de plantão.
Pois esta é uma eleição diferente, com inovações importantes, todas para melhor, nos remendos ainda insatisfatórios nas regras que mudam a cada rodada de urna. E a campanha virou de ponta-cabeça, como ginasta que emenda cambalhotas no ar, impondo a reavaliação das táticas da caça ao eleitor, algumas venerandas antigüidades, dignas de serem recolhidas ao museu do Superior Tribunal Eleitoral (STE) da modernidade das urnas eletrônicas e da recordista apuração em horas, em velocidade à prova de fraude.
Vamos à revista em passo acelerado. O comício foi expulso pela televisão. Sobrevive para o uso modesto em praças do interior, com a utilidade reduzida à mobilização dos militantes e de raros transeuntes curiosos, que param alguns minutos para distrair o ócio. A vassourada moralizadora proibiu o showmício com cantores e artistas contratados ao preço inflacionado da demanda e os cachês pagos pelo caixa dois.
A anemia dos programas do horário de propaganda eleitoral do primeiro turno, e que será a mesma dos 11 dias deste segundo turno – desta quarta ao dia 27, dois dias antes do domingo da decisão – confesso que provoca saudade do profissionalismo competente dos marqueteiros.
Retomamos o fio da meada. A explicação salta aos bugalhos: é só comparar números. Um comício de excepcional comparecimento não passa da casa dos milhares e raríssima mente dos cem mil fanáticos nos cálculos suspeitos dos organizadores.
O debate da Bandeirantes alcançou picos de 21,5 pontos, o equivalente a 1,16 milhão de espectadores, só em São Paulo. Com a duração de mais de duas horas, sustentando a média de 16 pontos. Além de outras características: o eleito é estimulado a comparar, em avaliação solitária ou entre parentes e amigos. Decide por opção pessoal, sólida como a rocha da teimosia.
Ainda não é só. A campanha saiu da geladeira, aqueceu com a fogueira do escândalo-mór, até aqui o campeão da temporada, do dossiê da trapalhada petista, em operação interrompida pela Polícia Federal, na hora exata da entrega da mala dos reais e dólares pelo pacote que anda mais sumido do que o sol nesta primavera, que não deu o ar de sua graça.
Não faltarão atrações na fogueira da reta final. O debate pela Rede Globo está confirmado para o dia 27, com o peso de toneladas na decisão do dia 29. Mais dois debates na fila da confirmação: dia 19 no SBT e dia 23 na Record.
Com tal dose cavalar de massificação, a campanha não pode moer a mesma toada no realejo de um a três debates espremidos em uma semana.
O candidato-presidente Lula, tão irritado e depressivo com o seu desempenho no confronto com o surpreendente Geraldo Alckmin, de agressividade insuspeitada, tem pouco a modificar no esquema de louvação dos êxitos do seu governo, o melhor da história deste país, que tem a obrigação de reeleger com os votos da gratidão.
E, na outra cadeira ou no outro palanque, o candidato oposicionista Geraldo Alckmin enfrentará o desafio de temperar a veemência na cobrança da origem do dinheiro para a compra do dossiê com temas que foram esquecidos nas duas horas de ofensiva. Pois será indesculpável se a ânsia de conquistar o voto passar ao largo da apresentação das propostas de programas de governo. E de temas intocados como a reforma agrária e suas distorções nos fracassos de ocupações que subsistem graças às Bolsas Famílias; do gravíssimo descalabro da devastação da Amazônia e na sistemática agressão do meio ambiente; da favelização das cidades – grandes, médias e pequenas – superlotadas pela migração do campo, sem nenhum plano do governo abúlico, de olho no próprio umbigo da ocupação do poder.
Repita-se: ninguém ganhou, ninguém perdeu a eleição. Mas o próximo presidente, para merecer os votos de milhões, precisa assumir compromissos claros e objetivos com a sociedade. E honrá-los.


Editado por Giulio Sanmartini   às   10/12/2006 01:14:00 AM      |